Antonio Pereira Sousa

"Aprendi novas palavras e tornei outras mais belas." (Carlos Drummond de Andrade)

Textos


A Escolha
 
 
O homem, no decorrer dos tempos, ganhou capacidade de pensar. Desenvolveu, a partir desta aptidão de pensar, o dado da inteligência, a astúcia de saber lidar com os materiais em seu entorno e de construir bens úteis, e nisso instituiu modos de ser e agir, estabeleceu a cultura.
A responsabilidade de cuidar de nós mesmos e de nossa casa, o planeta Terra, advém desse presente que recebemos da natureza, que nos habilitou a pensar e nos fez inteligentes.
Há um mundo físico e um mundo social. Estamos aqui e temos o dever de manter nossa existência e de conviver com esses dois mundos. Somos, em face de nossa inteligência, responsáveis por tudo aquilo que fazemos, pelos valores que criamos e pelo chão que habitamos.
A escolha é filha de nossa obrigação de existir e conviver. Isso impõe afirmar que há um painel tão amplo de ofertas e de infindas possibilidades que não deixa saída: querer alguma coisa é fazer escolha. A pessoa faz essa escolha baseando-se numa análise relacionada ao meio e de acordo com os benefícios que deseja alcançar.
Escolher é um ato de consciência. Importa dizer que possuímos conhecimento a nosso próprio respeito e a respeito do mundo em que vivemos. Esse é nosso ponto de partida para poder decidir e fazer escolhas: que habilidade temos, que queremos e o que oferece nosso meio?
Responder a essas questões é construir um sentido para nós e para nosso mundo, é definir o caminho a percorrer na direção de um objetivo de vida e, assim, estamos elaborando a essência de nosso viver. No plano histórico, estamos sendo sujeitos de nós próprios, de nossa própria sociedade ao sistematizar modos de produzir, de trabalhar, de relacionar, de educar... Filosofando sobre o tema, Jean-Paul Sartre (1905 – 1980) expressou: “O homem nada mais é do que aquilo que ele faz a si mesmo”.
Ao se perceber que, escolhendo, estamos predeterminando a própria vida, devemos procurar garantias para retirar do mundo social a autonomia individual e a liberdade possível para que cada um possa construir sua capacidade de escolher: educando-se, para ganhar sabedoria, erudição; trabalhando, para prover suas necessidades físicas.
Se isso acontece, se conseguimos um nível de habilidade que nos assegure o poder de bem escolher, nós nos tornamos responsáveis por aquilo que realizamos como resultado da escolha. Pode-se afirmar, nesse sentido, que fazer escolha é ser livre, mais do que isso, escolher é ter acesso ao portal da liberdade, ali onde os homens exercitam de forma autônoma as suas vontades.
No reconhecimento da vasta conquista que já realizamos no decorrer dos séculos, arrastando-nos da distante era da pedra lascada ao raio laser dos dias de hoje, o homem evoluiu em muito sua capacidade de escolha. Mas, nem tudo são flores. As escolhas ideológicas (liberalismo, socialismo, anarquismo, fascismo e nacionalismo) não produziram ainda resultados tão importantes, porque são fartos os sofrimentos que temos cometido ao outro, colocando dúvidas à ideia de inteligência como sendo uma aptidão para o bem. É que a maldade, também, se revestiu de boa dose dessa sabedoria que nos fez ser racionais.
Esse fato não anula e nem reduz a importância da escolha como princípio fundamental da ação humana. De fato, cada pessoa, ao escolher, modifica seu mundo, adaptando-o a seu projeto e, como cada pessoa tem seu projeto, as possibilidades de conflito estão sempre presentes e criam suas justificativas ideológicas. A esperança é que, em boa parte de nossas escolhas, ainda possamos atender as recomendações do velho filósofo Aristóteles (384 – 322 a.C.) em A Ética de Nicômaco: “O bem é o fim”.
Entendendo que as escolhas são sempre realizadas no social, sua eficácia precisa do reconhecimento do outro. Nesse entendimento, cada pessoa, se deseja concretizar suas escolhas, realizando-se como sujeito social, há de encontrar formas de convencimento capazes de demonstrar que a razão de ser de sua escolhas está na direção que lhe favoreça e, ainda, possa gerar frutos positivos para a sociedade. O essencial da escolha é ser força de realização de nossos projetos e fundamento de nossa própria humanidade.
Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 26/07/2018
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