Antonio Pereira Sousa

"Aprendi novas palavras e tornei outras mais belas." (Carlos Drummond de Andrade)

Textos


A Vida
 
A vida sem segredos. Vivemos concretamente o agora. Estamos no mundo em cada dia que acordamos. O passado e o futuro são projeções de nosso pensamento.
O homem tem capacidade de transformar tudo em presente. O passado chega até nós pela memória, pela lembrança, por documentos da história. O futuro, por sua vez, também está aqui agora em face de nossa esperança e até traçamos seu perfil como se fosse algo já concreto.
O passado e o futuro são importantes para a vida humana.
O passado ganha importância porque nos conduziu até o dia de hoje. Ele é a base do que somos. É o fundamento de nosso jeito de ser. Foi ele que nos deu régua e compasso, como na poesia de Gilberto Gil (1942):
 
Meu caminho pelo mundo
Eu mesmo traço
A Bahia já me deu
Régua e compasso [...].
 
O passado, então, vale como suporte para o presente, nunca como modo de ser hoje. O passado passou. Suas lembranças, seus projetos devem ser atualizados no presente e revigorados com as cores do momento, num esforço de desvendar mistérios, assim como ensina a canção de Caetano Veloso (1942):

 
Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
e te querendo eu vou tentando me encontrar [...].
 
Aquele passado que se constituiu em berço de todos nós é o mesmo que se fez em centelha que ilumina os caminhos que haveremos de trilhar, pois te querendo eu vou tentando me encontrar. É o passado aventurando-se a outro momento, ainda não de todo bem delineado.
O futuro é isso, é essa esperança de viver o amanhã. É agora que construímos o futuro, mas ainda não podemos viver nele. Vivemos agora. O futuro deverá ser sempre um horizonte de expectativa. Um mundo ideal, lá onde a vida se apresentará mais doce, com um pouco menos de desencontros. A vida há de ser trabalhada nesta esperança de um mundo mais venturoso. A vida perderia sua razão de ser se nada indicasse um amanhã mais sereno do que o ontem. O poeta Manoel Bandeira (1886-1968) canta, simbolicamente, um pouco desse mundo futuro que queremos, que buscamos:
 
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
[...].

 
É a vida sem segredos. Há desencontros, mas há encantos.
Há, no entanto, em nossos espaços de vivência, muitas barreiras intransponíveis que lançam muitos de nós em valas de extremas injustiças, onde pouco podemos fazer para nos tornar sujeitos de nossa própria existência.
Muitos conseguem vencer os contratempos e ganham o poder de escolher e decidir, fazendo-se sujeitos de si. E aí a vida se abre para a liberdade de viver em plenitude, ainda que existam sinuosidades, como nos lembra o poeta Vinícius de Moraes (1913-1980): A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida.
Uma certeza existe: temos de viver. Temos o dever de lutar para existir. A vida é o bem maior para cada um de nós e sem ela tudo o mais neste mundo social perde seu valor.
É por isso mesmo que a vida deve ser vivida em alegria. Um caminho para isso é dosar com sabedoria nosso encontro com nosso mundo, tirando lições e revertendo-as a favor da caminhada que nos faz ser viajante do tempo, de um passado que nos formou, de um presente que nos acolheu e de um futuro que há de nos receber.
O conteúdo da vida de todos nós é formado dessas feições: passado, presente e futuro. E como tudo é muito complexo, pedimos socorro ao poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), que fez um arranjo de solução para qualquer dúvida, com seu poema Receita de Ano Novo:

 
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo.
Eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
 
Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 06/08/2018
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