Antonio Pereira Sousa

"Aprendi novas palavras e tornei outras mais belas." (Carlos Drummond de Andrade)

Textos


O Sujeito
 
A vida de cada um de nós em ação nos faz sujeitos.
O sujeito é aquele que se anima em alcançar um novo patamar de sua existência, por sentir superado aquele momento que agora está sob seu controle.
Essa condição de sujeito nos coloca em relação com um espaço-tempo e uma experiência, fundamentos que produzem certa consciência de quem somos.
O espaço onde vivemos fornece a passagem para o tempo que nos envolve.
Aí onde cada um nasce e vive existe um tempo próprio.
O tempo são esses modos de viver instituídos, que nos fizeram ser um conjunto de relações reconhecido em forma de família, escola, religião, trabalho, entre outras instituições. Mais do que isso, o tempo são ainda essas possibilidades influenciadoras desse agir social que decide, aceita, nega, contesta, nesse nosso envolvimento com a cotidianidade social.
Estamos sempre num espaço definido e num tempo próprio e, dessa base, é que se forma “[...] a humanidade do homem como existência [...]”, como nos ensina o filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976).
É em razão desse fundamento que acontece nossa interação com a esfera moral da vida prática do mundo social. Isto é, nós nos tornamos sujeitos qualificados por uma imposição do espaço-tempo onde vivemos.
Agindo num determinado espaço-tempo, defrontamo-nos com diferentes dificuldades. Somos levados a construir modos de enfrentar os problemas e de encontrar as devidas soluções. Arranjos sociais específicos surgem aí nesse espaço-tempo de reflexão, de debate e luta, modelando-nos para lidar com todas as adversidades, dando-nos ainda temperamento para inventar os encantos que emolduram nosso jeito de ser.
Enquanto vivemos nesse esforço de estar nesse espaço-tempo à procura da sobrevivência, o sujeito vai se formando enquanto experiência. Esse espaço-tempo nos impõe seus condicionamentos sem nos consultar coisa alguma. Nosso dever é compreender adequadamente esse lugar e esse instante onde estamos.
É nesse universo que nos individualizamos enquanto criaturas humanas. Cada pessoa constroi o seu próprio olhar sobre a vida e sobre o mundo a partir de sua própria experiência e, assim, nesse envolvimento com o mundo de luta, padecimento e vitórias, ganhamos consciência de nossa existência, reconhecemos nossa trajetória e divisamos com clareza o horizonte a nossa frente.
O sujeito somente se constitui e se afirma nesse propósito de reconhecimento de seu espaço-tempo, dominando as dificuldades apresentadas e construindo as suas perspectivas a partir de si mesmo, de seu modo de ser, de seus desejos e possibilidades.
O sujeito, por isso mesmo, não deve ser pensado como um espectador separado de suas relações vitais com o mundo. O mundo objetivo é que deve ser envolvido com as subjetividades elaboradas pelo sujeito em face de seus sonhos e imaginações, nessa aventura que faz do homem um ser de busca permanente nos limites de sua temporalidade e espacialidade. Esse é também o caminho seguro imaginado pelo poeta alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832): “Se queres chegar ao infinito, anda somente para os lados do finito.
A caminhada do sujeito é sempre um território sinuoso, num momento podemos nos deparar com um tempo de tormentas, noutro instante o tempo é aplainado e uniformizado.  Acomodar-se, imaginar que o tempo parou e já não oferta outras surpresas, é alienar-se, é se afastar de outras belezas ainda não conhecidas, mundos perdidos nas distâncias ainda não alcançadas por nossas experiências.
O sujeito, esse ser que quer algo conscientemente, que constroi sua própria essência - a liberdade, esse sujeito se projeta na direção de sua vontade. Vontade ora invadida por valores de simples contemplação, ora regulada pela lógica da apropriação. Essa vontade é sempre inquieta porque acompanha a constante mudança dos espaços-tempos que nos envolvem.
Somos, pois, sujeitos pensantes dentro de um mundo pensado.
 
Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 06/08/2018
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