Antonio Pereira Sousa

"Aprendi novas palavras e tornei outras mais belas." (Carlos Drummond de Andrade)

Textos

Ação
 
“Dê-me uma alavanca e um ponto de apoio e eu moverei o mundo”, esta é uma expressão de Arquimedes. Arquimedes (287-212 a.C.) nasceu em Siracusa — comuna italiana da região da Sicília. Foi um dos maiores gênios da física e teve uma importância decisiva no surgimento da ciência moderna, tendo influenciado, entre outros, Galileu Galilei, Christiaan Huygens e Isaac Newton.
Que fazemos nós quando procuramos compreender nosso tempo, quando buscamos dominar as tecnologias contemporâneas? Queremos por esse saber a disposição de nosso desenvolvimento, a partir de um projeto previamente elaborado. Isto é, estamos construindo nossa alavanca e instituindo nosso ponto de apoio. Com esses instrumentos facilitamos nossa investida no universo, usando melhor nossa força, compreendendo melhor a razão de ser deste ou daquele aspecto: do fruto da terra que nos alimenta, da energia solar que nos ilumina, da diversidade da flora e da fauna que nos complementam...
Cada tempo constrói sua alavanca e seu ponto de apoio, conforme as necessidades, possibilidades e ou conveniências. Atualmente, a sociedade dá muita importância à educação escolar. É a nossa atual alavanca. E reconhece o trabalho como o ponto de apoio. O mundo melhorará, a partir do bom uso desses dois dados, se os interesses egoísticos ficarem longe, o que nem sempre acontece. A dificuldade é pôr em prática essa tese: colocar, igualmente, a educação e o trabalho à disposição de todos. Sabemos todos que isso é importante e é possível.
Vale lembrar aqui a mensagem deixada por Michelangelo (1475-1564). Como se sabe, Michelangelo é o criador da obra prima Davi, atualmente exposta na Galleria dell’Accademia, de Florença. Nessa Accademia, estão outras esculturas do artista aparentemente inacabadas. Essas esculturas estão todas começadas, parte pronta e parte ainda bloco sem forma. Elas foram deixadas assim por desejo do artista.
A ideia de Michelangelo era a de que o artista não responde pela criação da escultura: “Sua função seria apenas libertá-la do bloco de mármore que a aprisionava”.
Tomando-se essa noção de Michelangelo como metáfora, a educação faz isso mesmo, tem a capacidade de abrir janelas de conhecimento a permitir que o educando veja no mundo as possibilidades de agir, de influir na modernização social. A educação é só a escultura inacabada, cabe ao educando finalizar a obra: mover o mundo.
Saber, pois, utilizar uma alavanca e um ponto de apoio é agir conscientemente. Agir é um termo com suas raízes no latim agere e significa ir comprometido, ou seja, agir é proceder de determinado modo, conduzir-se, comportar-se. Não é simplesmente ir. É ter consciência de nossa condição de ser social e atuar sempre na intenção de promover o bem-estar social.
Sinais de sabedorias conhecidas dizem do valor imenso do agir comprometido. Dois exemplos:
- Em Platão (filósofo grego – 427-347 a.C.), em sua alegoria da caverna, o indivíduo que se libertou da escuridão, conheceu a luz, um novo universo, e retornou para avisar aos demais sobre a existência de outra realidade;
- Em Marcos (16, 15), há outra determinação do agir comprometido: “Ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda criatura”.
Na ação, o movimento ganha significação.
O ato de agir deve ser sempre consciente.
O sujeito da ação deve saber o que quer para tomar com segurança a alavanca e o ponto de apoio e caminhar na direção de efetivas mudanças, movendo o mundo social para um ponto mais adequado, ali onde a maioria possa utilizar, amplamente, os benefícios conquistados pela sociedade de seu tempo.
Muitas são as instituições que poderiam ser tomadas como alavancas (educação, política, religião e outras) e que, se sustentadas em critérios éticos, produziriam resultados infindos ao social.
Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 16/08/2018
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