Antonio Pereira Sousa

"Aprendi novas palavras e tornei outras mais belas." (Carlos Drummond de Andrade)

Textos

O Grito Das Ruas
 
Saber.
Nessa experiência secular da sociedade, o homem já colocou sob seu domínio um mundo imenso de saberes, mas ainda estamos todos nos debatendo com inúmeras incertezas.
A riqueza de conhecimento já conquistada conferiu ao homem benefícios extraordinários e bem poderíamos ter peregrinado na história sem os sacrifícios enormes por que têm passado povos, nações e sociedades inteiras. Apesar dos saberes e dos tempos transcorridos, ainda não aprendemos a viver em sociedade.
No meio do caminho desse percurso, temos tropeçado feio. Diferentes ideologias indicam rumos tão contraditórios que conduziram “soluções” através da força, da eliminação ou submissão do outro. Tudo isso vem ocorrendo independentemente do reconhecimento teórico de uma lista imensa de direitos individuais e coletivos presentes em nossos códigos. Tudo isso se fez independentemente da ampliação dos argumentos sobre a importância da democracia apregoada por toda parte.
Vivemos em insegurança, porque não auscultamos os sinais dos tempos e não ouvimos as vozes que vieram de longe em sabedorias sagradas e seculares:
- “O próprio Espírito testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus” (Romanos 8.16).
- “O homem é um animal social” (Aristóteles).
Fundamentos assim, postos para discussão das sociedades, inspiraram ações grandemente importantes e fizeram crescer nossa humanidade. Ganhamos compreensão daquilo que é bom, belo e justo. Constituímos um belo rol de direitos e deveres. Nosso olhar foi aguçado. Da história da vivência do homem, conhecemos detalhes. Embora todas essas conquistas de nossa cultura social, a consagrar a ideia do que é bom, belo e justo, construímos o lado inverso do desejado. Os bens produzidos pela força do homem na história se tornaram propriedade particular e estão nas mãos de uns poucos. Estudo do World Institute for Development Economics Research (WIDER) revela que “[...] os 2% dos adultos mais ricos do mundo possuem mais da metade de toda a riqueza mundial”.
O Brasil, por sua vez, é o país com o maior grau de desigualdade. A renda média dos 10% mais ricos representa 28 vezes a renda média dos 40% mais pobres. Esses dados colocam o Brasil como um país distante de qualquer padrão reconhecível como razoável em termos de justiça distributiva, conforme a Revista Brasileira de Ciências Sociais.
Essas são as raízes de nossa insegurança social, apesar de todos os saberes, apesar todas as conquistas da ciência, apesar de todo o conteúdo virtuoso da democracia. É preciso se encontrar uma nova forma de mudar o mundo? Como fazer para transformar esses amplos saberes teóricos em objetividade, em mundo real? O grito das ruas poderá ajudar?
O grito das ruas é um caminho ativo de reclamação e não pode parar. Referindo-se à copa FIFA 2014, num dos cartazes, uma multidão em São Paulo (junho/2013), se podia ler o seguinte grito constrangedor:
 
QUANDO SEU FILHO ESTIVER DOENTE LEVE ELE AO E$TÁDIO DE FUTEBOL
 
É preciso, nesse momento, lembrar-se do filósofo Jean Jacques Rousseau (1712-1778) que assegurava: “[...] A desigualdade social e política não é natural, não deriva da vontade divina, nem sequer é uma consequência da desigualdade natural entre os homens”. [...] “A desigualdade social vem da apropriação privada da riqueza do mundo inteiro e dos benefícios privados derivados dessa apropriação”.
Dito isto, fica a esperança no grito das ruas e no apelo do poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), numa das estrofes de seu Poema de sete faces:
 
“Meu Deus, por que me abandonaste/ se sabias que eu não era Deus, / se sabias que eu era fraco”.
Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 16/08/2018
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