Antonio Pereira Sousa

"Aprendi novas palavras e tornei outras mais belas." (Carlos Drummond de Andrade)

Textos

Pobreza (I)

Desigualdade.

         Ficamos pobres meio a tanta riqueza promovida pelo um imenso domínio das ciências e tecnologias. Basta olhar que temos abundância de bens, vastos conhecimentos, amplas possibilidades de construção de confortos no campo da saúde, do sustento alimentar, da moradia, da comunicação e do lazer.

         Todas essas coisas ganharam donos e isso chega ao nível da indecência. Um relatório das Organização das Nações Unidas (ONU) mostra que 1% da população mundial mais rica concentra mais de 40% da riqueza global, e que mais da metade da população pobre detém apenas 1% dos recursos.

         Estamos num mundo sem espaço para o riso. A crueldade é insana, basta olhar em volta. Esse parece ser um grande problema da civilização. Todas as coisas ganharam donos e, cada vez mais, a referência social se perdeu. Resultado. A opulência de um lado e a carência do outro retratam a imoral desigualdade entre os seres humanos.

         As teorias de ontem e de hoje, que fundamentam essa segregação social, recusam a Vida, impedem o desenvolvimento da humanidade do Homem e nos embrutecem de tal modo que já não sentimos mais a dor do outro. Triste é perceber que todos sabemos que a absurda desigualdade não é culpa da Natureza, e, sim, do modo como a sociedade organizou-se em privilégios. Temos consciência disso, mas, há forças tais que impedem mudanças.

        O canto poético de João Cabral de Melo Neto (1920-1999) clama alto essa pobreza de alma, de vontade, de disponibilidade, clama em maior altura ainda, face à dor, ao sofrimento:

 

“E se somos Severinos

iguais em tudo na vida,

morremos de morte igual,

a mesma morte severina:

que é a morte de que se morre

de velhice antes dos trinta,

de emboscada antes dos vinte,

de fome um pouco por dia...”

 

 

Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 02/04/2022
Alterado em 16/04/2022
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