Antonio Pereira Sousa

"Aprendi novas palavras e tornei outras mais belas." (Carlos Drummond de Andrade)

Textos

Razão
O outro existe. Todos nós só existimos porque o outro existe.  Somente com o outro criamos a possibilidade de ser e permanecer no mundo, compondo a coletividade que nos acolhe enquanto indivíduo, nesse jogo em que somos, simultaneamente, unidades e pluralidades. Unidades com nossos próprios atributos. Particularidades que nos diferenciam de tudo o mais que existe, até mesmo do outro dentro de nosso coletivo.  É nesse sentido ainda que somos mais que coletividade, nós somos parte do universo e somos sua consciência. Sem nós, tudo ficaria num vazio imenso, porque existência sem emoção, porque cores sem o riso do prazer, sem as alegorias poéticas a criar vontades, desejos, anseios, porque tudo se acomodaria a trajetos imutáveis, com seus princípios de causas e efeitos, a dispensar as racionalidades que dialogam, que criam e reelabora o já realizado, pois que, somente o homem é capaz de tal aventura. Nessa convivência e face a sensibilidade que cada um desenvolve, surgiu a necessidade da presença da razão. Estamos no âmbito de um social em que as relações não estão dadas, tudo é um instituir e refazer, um anular e aperfeiçoar, um discordar e um dialogar, sem o que a sobrevivência humana seria extinta. A razão, ao aparecer nesse palco e nesse cenário e nos conceber como espécie distinta dos demais seres, faz-se alma em nós, por favorecer essa possibilidade de pensar e dar conta de si mesmo dentro de uma história, diferentemente dos demais animais, que já nascem prontos e não tem mais o que fazer a não ser viver, sustentados em seus instintos. Nós humanos, condenados a ser livres, como expressou o maior expoente da filosofia existencialista, o escritor, filósofo e dramaturgo francês Jean-Paul Sartre (1905-1980), somos caminhantes do tempo, construímos aquilo que somos, e porque circunstâncias determinam, criamos modos de viver, modos de ser, fazendo nascer no corpo social tipos de sentimento próprios de homens. E aí, convivendo, fazemos guerras, buscamos a paz, amamos, desamamos, mas somos dotados de uma possibilidade de contar, calcular, narrar, refletir, articular, isto é, dispomos de instrumentos racionais capazes de favorecer o desenvolvimento do humano em nós. Essa racionalidade, assim constituída, se mostra, num momento, destruidora, gananciosa, a maltratar indivíduos e nações inteiras e, noutro instante, essa mesma racionalidade proporciona grandezas a colorir de alegrias indivíduos e nações inteiras. O dever é o de sempre: continuar a viver e conviver e procurar domar nossa razão, em benefício de uma vida ditosa para todos nós habitantes deste nosso planeta Terra. 
Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 30/04/2022
Alterado em 30/04/2022
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