Antonio Pereira Sousa

"Aprendi novas palavras e tornei outras mais belas." (Carlos Drummond de Andrade)

Textos

O Voo do Pensamento
 
“Ler é evitar que a alma enfarte”
Jorge de Souza Araújo

 
Ler e refletir.
Ver o mundo com o olhar do pensamento é querer compreender tempos diversos, em que a vida se elabora em encantos e desencantos e se insinua em projetos futuros, na esperança de realizar conquistas, momentos em que as sinuosas trajetórias de viver se suavizam.
Ler é realizar movimento de interação com o mundo, almejando revelar e entender sentidos presentes em espaços e tempos diversos, configurados em gestos e feitos, em jeitos de atuar e de ser.
Refletir é dominar conteúdos e perceber intenções e finalidades que se formam na composição dessa teia social de um mundo que nos abraça, para permitir conhecer e agir.
Ler e refletir, nesse sentido, equivale a pensar.
A ação do pensamento é mais do que simplesmente desvendar mistérios, compreender as coisas ao delinear suas funções. Pensar é, sobretudo, conhecer melhor a nós mesmos, em resposta às posições que somos levados a tomar sobre nossas vidas, decidindo sobre o belo e o feio, o bom e o mau, sobre virtudes e malefícios, sobre o que fazer ou desistir, pois, o mundo que emerge das vivências sociais é para nossa contemplação e proveito.
Nesta aventura de viver nos envolvemos com multiplicidade de teorias e visões, percebemos modos de indagar sobre a vida que vivemos nesse exercício de ler o mundo e refletir sobre ele, numa espécie de teimosia de não aceitar as coisas como óbvias, inquirindo o mundo como se nunca o tivéssemos visto antes.
Assim, a proposta para uma vida vibrante seria auscultar o mundo ao nosso redor, as coisas do agora ou de outros momentos, de lugares próximos e distantes. A esperança é navegar em águas calmas, localizando caminhos novos e novas fronteiras que possibilitem abrir um mundo novo de leituras e reflexões.
Esse mundo novo está na vida, nesse universo aberto ao olhar de quem deseja ver e está nos textos de diferentes autores.
O mundo do texto é uma espécie de reprodução desse movimento da sociedade construída ao longo dos tempos. Esse mundo textualizado é uma espécie de representação daquilo que foi a vida ativa dos homens na sociedade, agora configurada em linguagem escrita, em códigos instituídos dentro do mesmo movimento que faz a vida ser ação.
Nesse sentido, pode-se afirmar que um texto não pertence à esfera exclusiva de uma subjetividade autônoma do autor, tanto que, na leitura de um texto, não se deve buscar o autor, mas aquilo que se falou: o mundo revelado em acontecimentos e significados. Por isso mesmo, o texto se sustenta não mais no autor, mas no seu valor de verdade, na sua pretensão de atingir a realidade. Esse mundo textualizado é agora visto por outra experiência, a do leitor, outra subjetividade que inclui na leitura outras questões não pensadas pelo autor. É em razão disso que os textos publicados saem do domínio particular, ganham autonomia e podem ser acolhidos, rejeitados, modificados ou tomados como modelo. Agora o texto publicado é do leitor.
Na lembrança de que a palavra oral facilmente se esvaece, o arranjo que se encontrou para se resolver essa dificuldade foi a escrita. Com esse recurso do registro escrito, o discurso foi colocado ao abrigo da destruição, funcionando como memória de um tempo anterior, possibilitando ampliar o alcance de sua comunicação por muito mais tempo. O texto, desse modo, é a efetuação do discurso e sua proteção, mas, em face de sua dimensão codificada, ele se coloca ao leitor como fenômeno a ser compreendido e, à semelhança da linguagem, é, também, pura significação. O livro, assim, é a significação de um tempo posto à interpretação do leitor e, como tal, código a ser decifrado. 
Em síntese, textualizar é codificar a realidade, a vida ativa dos homens. Ler é decodificar a narrativa a partir das novas experiências vividas pelo leitor. Refletir é ver na leitura a possibilidade de tomar decisões para se impedir que o mundo fique à deriva, ao sabor do acaso, pois há uma experiência anterior visualizada no estudo que pode sustentar novas ações, como um farol que ilumina caminhos.
Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 11/07/2018
Alterado em 23/07/2018
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