O Sublime A luta da vida é uma busca por melhorias. O que queremos com nossos esforços no trabalho, com o domínio dos saberes, com o aperfeiçoamento de nossas relações com o outro não é senão o bem-estar. O bem-estar é um dos sinônimos para o sublime. Dicionarizado, o termo sublime se amplia em tantas outras direções: altivo, brioso, digno, ilustre, nobre, belo, elevado, etc. Neste texto, o desejo é refletir sobre o conceito de sublime como sendo um prazer que ocorre porque a fonte do desprazer desapareceu e, nisso, a experiência do sublime deve ser transferida do ver para o sentir. O sublime, nesse sentido, não povoa apenas os jardins da imaginação destinados ao puro deleite estético dos poetas, ele (o sublime) habita no espaço de vivência dos sujeitos, no cotidiano que faz o mundo social girar, mover-se. De modo geral, o sublime nunca se mostra de corpo inteiro como os monumentos, ele é percebido, quase sempre, em escala reduzida, em miniaturas, em detalhes meio a situações das mais adversas. Mesmo no momento em que as ideologias nos separam devido aos seus métodos, elas nos unem graças aos objetivos finais, isto é, as promessas de conquistas sociais ditosas. São traçados sinuosos de caminhos contraditórios perseguindo mundos confortáveis onde carências são minimizadas e luzes novas surgem no horizonte, sinalizando possibilidades de vida venturosa. É o sublime manifestando-se de relance. Nesse relampejar em instantes inesperados, o sublime irradia um colorido no espaço de nosso viver. Não é preciso falar dos encantos das flores, das paisagens rurais ou das plumagens dos pássaros. Nem é preciso dizer quanto é deleitoso ouvir o riso angelical das crianças, acolher o abraço aconchegante da vovó ou se deixar envolver pela magia dos multicoloridos raios do sol ao cair da tarde. Essas benevolências são dádivas, como no exemplo visto em Mateus 6:28-29: “Olhai para os lírios do campo, como eles crescem: não trabalham, nem fiam. Eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles”. A outra face do sublime é aquela que emerge como resultado das ações dos indivíduos que tomam consciência de sua condição de sujeito fiel, que se obriga naquilo a que se comprometeu, nesse mister de construir um mundo melhor independentemente dos contratempos. Nesse esforço, apesar dos sofrimentos que o embate da luta promove, o encantamento nos enlaça e nos liga aos atributos de grandeza ofertados pelo mundo e nos faz instituidores do espaço-tempo em que vivemos. E se, em algum momento, um quê de benefício acontece, ali é a presença mística do sublime materializando-se. O sublime reside aí, no esplendor do mundo, acima das contingências, mas não fora das muralhas onde se processam os embates. É mesmo neste mundo histórico, de vastas contraposições, que o sublime é elaborado pelas vontades emanadas das consciências que enriquecem a existência humana. Há mesmo lugar para se acolher o sublime como algo que existe necessariamente, imprescindível a cada um de nós? A resposta é positiva, menos para aqueles que defendem a tese de que “[...] o homem é angústia [...]”, como o fez Jean-Paul Sartre (1905 – 1980). Parece ser verdade que todos nós queremos viver em paz, plenos de alegria, todos nós esperamos receber proveitos das vitórias alcançadas pela ciência e pela tecnologia, libertando-se para poder fazer nossas escolhas, decidir sobre nossos projetos, sem enfraquecer essa teia que nos liga ao outro, abrindo espaço para a troca de experiências civilizadoras. Esses benefícios, no entanto, não se apresentam como donativos, eles resultam de conquistas individuais nutridas por vontades firmes que investem energias a favor de um mundo melhor, fazendo a vida ganhar cor, graça e sentido, legítima feição do sublime. Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 23/07/2018
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |