O Homem
“O homem é aquilo que ele próprio faz.”
André Malraux (1901 – 1976) O mundo em que vivemos é uma construção do próprio homem. Da mais remota antiguidade até nossos dias, o nosso conhecimento e domínio sobre a natureza vêm se expandindo grande e incessantemente. Longe já se vai o tempo em que fabricamos o machado de pedra. Basta olhar em torno para sentir o avanço dos novos bens à nossa disposição, todos elaborados por nós. São exemplos dessa afirmação o avanço dos meios de transporte e os de comunicação, o desenvolvimento da ciência médica e da tecnologia de alimentos. Para realizar esse mundo de coisas, aconteceu a ação determinada das pessoas. Era um fazer e desfazer, ajustar e substituir, modificar e aperfeiçoar, tudo ocorrendo sob facilidades e dificuldades impostas pelas condições do espaço de cada sujeito, de cada grupo. Foi nesse campo de luta que, na simultaneidade, cresceu e se desenvolveu o caráter do homem, tomaram forma as atitudes que moldaram as diferenças entre as pessoas e fizeram surgir a diversidade de nossa cultura: jeitos de ser, gosto, anseio, forma variada de pensar, modos de sentir, agir e reagir. Esse é o homem da história, do mundo concreto que precisa ser cuidado. Conhecer esse homem é possível. Ele se revela a partir de seus feitos. Pois, nesse fazer, enquanto realizamos os bens úteis para nossa sobrevivência, construímos nosso universo mental, a partir do qual nossa subjetividade ganha potência. Eis que surge aí a nossa alma, nossa Razão, a essência que nos faz ser homem, uma espécie de natureza distinta dos demais animais. É mesmo a razão que nos torna capazes de ter consciência do que somos, por determinar nossa individualidade, reconhecer nossa conduta e nos qualificar como homens num reino animal sem história de si. O homem, então, é história e é razão. É história porque tomou consciência do problema do tempo, ao se libertar do círculo estreito das necessidades e desejos imediatos, reconhecendo uma experiência anterior que lhe possibilitou a existência social e construiu um presente que passa a divisar um mundo novo à frente. É razão por se livrar dos preconceitos, dos mitos, das opiniões enraizadas, das aparências e conseguir estabelecer critérios universais, o que nos possibilita argumentar, rebater, discutir, levar a termo e concluir. O pensador Agostinho (354 – 430) nos ajuda nessa compreensão: “Razão é o movimento da mente que pode distinguir e correlacionar tudo o que se aprende”. O homem como história e razão torna-se um patamar, uma base. É dessa base que nós imprimimos nossa caminhada na direção da imensurável e inesgotável abundância da realidade e o poder irrestrito do intelecto humano. É uma busca do infinito. Somos um caminhante do tempo. O círculo em que vivemos tem se ampliado no impulso das realizações concebidas sob influência de diferentes teorias. Nesse universo de ideias, Max Scheler (1824 – 1928) declara que: “Em nenhum outro período do conhecimento humano, o homem tornou-se mais problemático para si mesmo que em nossos próprios dias”. Essa incerteza que dificulta saber quem somos deveu-se à capacidade que desenvolvemos para viver. Para além de nosso sistema receptor e efetuador (os instintos), que é encontrado em todas as espécies de animais, ampliamos nosso poder quando passamos a utilizar de um sistema simbólico, estabelecendo uma nova dimensão para a realidade. Agora, o homem reconhece a existência de contingências externas e submete tudo a um lento e complicado processo de pensamento elaborado a partir de diferentes experiências vividas em cada canto do mundo. O homem é história, é razão e é animal simbólico. Esse universo simbólico é a moldura que nos faz traçar caminhos, desenhar possibilidades, levando-nos a viver emoções imaginárias em esperanças e temores, ilusões e desilusões, em fantasias e sonhos. Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 23/07/2018
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