Antonio Pereira Sousa

"Aprendi novas palavras e tornei outras mais belas." (Carlos Drummond de Andrade)

Textos

A Sabedoria
 
 
Vida ativa.
É da natureza de todos os seres vivos desenvolver algum tipo de ação para sobreviver.
Cada espécie viva, a seu modo, organiza sua forma de se alimentar e de se proteger. Surge aí um mundo de atitudes, de complexidade maior ou menor, todas adequadas à sobrevivência. Os diferentes modelos de viver apontam para a existência de universos inteiramente independentes, onde cada grupo se apropria, a seu modo, dos bens do mundo dentro dos limites de horizontes das informações da hereditariedade: vide as formigas, as abelhas, os pinguins – para citar apenas algumas poucas espécies.
O homem, no decorrer da história, perdeu essa capacidade de se orientar pelos padrões da genética, ao instituir os parâmetros da cultura. O etnólogo Denys Cuche (1947), em seu texto A Noção de Cultura nas Ciências Sociais, afirmou:
 
   A cultura permite ao homem não somente adaptar-se a seu
meio, mas também adaptar este meio ao próprio homem, a
suas necessidades e seus projetos.
 
 
Nada no homem é puramente natural, mesmo as necessidades fisiológicas da fome, do sono e do desejo sexual obedecem a um alento cultural traçado por necessidades sociais.
A cultura, que substituiu no homem a espontaneidade da ação pré-elaborada, é todas essas deliberações que realizamos, “[...] que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, o direito, os costumes e as outras capacidades ou hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro da sociedade”, conforme expressou o antropólogo Edward Burnett Tylor (1832 – 1917).
A sabedoria brota em razão dessa condição de o homem ter de agir baseado em suas próprias reflexões, visando realizar sua própria essência, seus desejos, seus projetos, tendo presentes os condicionamentos do tempo e do espaço em que vive.
A questão que aparece dessa necessidade de o homem fazer a si mesmo enquanto sujeito social, realizando sua própria essência, é aquela de assumir a consciência de ter de traçar caminhos em busca de alcançar objetivos: o que queremos para nossa vida.
A sabedoria, aqui, vai para além do conjunto de conhecimentos resultantes da atribuição de títulos acadêmicos formulados por estabelecimentos de ensino superior, como o de mestre, doutor e PhD (Philosophiæ Doctor). A sabedoria diz respeito à capacidade que desenvolvemos para resolver nossas dificuldades, diante de necessidades específicas.
Assim considerando, a sabedoria não está tão relacionada ao termo conhecer, está mais próxima do termo compreender. No esforço de dar sentido à experiência, o sujeito ganha a capacidade de treinar seu intelecto, ao filtrar confusões, reconhecer ilusões e diferenciar o joio do trigo, indo em direção à síntese que aponta saídas para seus interesses, sejam aqueles mais primários, de atender exigências fisiológicas de comer, dormir, proteger-se; seja aquele outro mais nobre, o de favorecer a própria humanização do homem nas práticas das diferentes virtudes: perseverança, respeito, responsabilidade, simplicidade, sinceridade, sobriedade, sociabilidade, entre outras.
Importa considerar que o exercício da sabedoria sustenta-se no equilíbrio, porque surge do conhecimento gerado nessa relação entre teoria e prática. As experiências anteriores, que se transformaram em fundamentos (teorias), são acolhidas no espírito de um tempo e postas a serviço de novas ações (a prática). O equilíbrio, em que se sustenta a sabedoria, é notado pela sensibilidade desse novo tempo e diz respeito a conquistas que ampliam os seus benefícios para maior número de pessoas.
A sabedoria que queremos é aquela que festeja a vitória da ação sobre o desprezo, sobre a desesperança e acolhe a ideia da grandeza que liberta e amplia o afeto do abraço que fraterniza. Sustentando esse pressuposto, há uma bela expressão do filósofo prussiano Immanuel Kant (1724 – 1804): “Ciência é conhecimento organizado. Sabedoria é vida organizada”.
Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 27/07/2018
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