Antonio Pereira Sousa

"Aprendi novas palavras e tornei outras mais belas." (Carlos Drummond de Andrade)

Textos


A Gratidão
 
 
Vivemos no social.
Estamos dentro de uma rede de relações de homens lutando por sua existência, procurando construir modos mais suaves de viver, compondo cenários inspiradores de cantos como na poesia Eu Quero Apenas do cantor Roberto Carlos (1941 -):
 
                                               [...]
Eu quero crer na paz do futuro,
Eu quero ter um quintal sem muro
Quero meu filho pisando firme,
Cantando alto, sorrindo livre
Quero levar o meu canto amigo
A qualquer amigo que precisar.

                   [...]
 
 
O mundo social da existência humana se revela nas diferentes instituições como, por exemplo, as de raízes econômicas, que dizem respeito à produção e distribuição de bens e serviços. As de raízes políticas, que regulam o uso e o acesso ao poder. As de parentesco, que dizem respeito ao casamento, à família e à socialização e as culturais, que reverenciam, genericamente, às religiões e às atividades artísticas e científicas.
É no interior dessas instituições e nas suas interfaces que os sentimentos humanos surgem e ganham feições: a alegria, a tristeza, o medo, a raiva, o amor e a gratidão.
Esses sentimentos pedem a presença do bem maior que o homem conquistou: a razão, essa capacidade que temos de contar, calcular, narrar, refletir e que abre nosso poder de organizar-se intimamente e de organizar nossa relação com as demais pessoas, dentro da teia social.
Isso significa que todos nós, por diferentes motivos, somos levados a momentos onde expressamos sentimentos e fortes emoções, mas tudo deve ficar sob a vigilância da razão, em face da essência do que somos: seres dotados de inteligência, dessa capacidade mental de raciocinar, planejar, resolver problemas, compreender ideias e linguagens e aprender.
É nesse rumo da ação inteligente que a gratidão se mostra como um dos aspectos mais saudáveis e positivos do desenvolvimento humano, ao fortalecer o elo afetivo que une os indivíduos, num processo que apresenta registros de bondade, gestos amistosos e desinteressados que ao alegrar o beneficiário, alegra também o patrocinador.
A gratidão, assim, é irmã gêmea da felicidade, é a resposta da alma que se encantou e soube se revestir de generosidade, gesto pró-social que ausculta com mais serenidade o clamor das vozes dos que choram e se maravilha com a harmonia dos sons daqueles que cantam.
Esse lado virtuoso da gratidão é uma espécie de afeto moral requalificador das atitudes que beneficiam o sujeito da ação inicial e tantos outros, num ciclo amplo de contatos, pois a alma que cultiva a gratidão ganha direção à sublimidade, ali onde se enriquece a existência humana, numa espécie de busca de uma fraternidade universal.
Neste gesto de procura da fraternidade universal, puxado pelo ato da gratidão, existe a presença de algumas funções:

º Resposta positiva à percepção de benefícios. Reconhecimento de que alguém nos favoreceu com algum afago material (bens) ou imaterial (abraço, riso, delicadeza).
º Comportamento pró-social a favor de benfeitores e de outras pessoas.
º Sensibilização para se evitar comportamentos interpessoais destrutivos.

 
Nota-se aí uma espécie de emoção positiva gerada pela gratidão. Resultado: os repertórios do pensamento e da ação são ampliados, porque a face nobre das relações sociais se realiza independentemente das tragédias. Há uma espécie de sobrevoo protegido pelo gesto da bondade inicial respondida pela gratidão, fechando-se no ciclo de benevolência.
As atitudes saudáveis, como a gratidão, criam mesmo perspectivas positivas e favorecem o bem-estar de indivíduos e grupos, o que fortalece o ânimo do caminhante benevolente. 
    
 
 
Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 27/07/2018
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