O Mistério Habitamos numa vastidão. O planeta Terra onde nós estamos é apenas um fragmento do infinito mundo físico conhecido por nossa ciência. O universo conhecido é composto de 200 bilhões de galáxias. Nossa Terra está na menor galáxia – Via Láctea – que possui 100 bilhões de estrelas. O nosso Sol é uma dessas estrelas e é grandioso para nós. Ter consciência do infinitamente grande que é nosso universo sugere o seu reverso, o imensamente pequeno: o átomo. O átomo é a menor partícula de um elemento como afirma a ciência, isso até julho/2012 quando toda mídia exaltou o achado de uma partícula subatômica denominada de partícula de Deus ou bóson de Higgs. Seria a menor partícula? Há outras? Não há ainda como saber. Importa aqui compreender que há um mundo imenso que se perde no silêncio de nosso saber tanto na sua grandiosidade quanto em sua pequenez. O homem está dentro dessa imensidão e se reconhece como miniatura infinitesimal nos limite de nossos domínios lógicos. Fora dessa ordem lógica, o estranho se manifesta, ou como diria o jornalista e escritor francês Jules Vallès (1832-1885): O espaço sempre me fez silencioso. É nesse além que está fora da compreensão humana que mora o mistério. O mistério é um fenômeno que ocorre e não se tem conhecimento de suas causas. É algo que não se pode explicar a partir das bases lógicas dominadas por nós num determinado momento. Em razão dessa impossibilidade de reconhecimento de certos fenômenos é que surge o signo do infinito produzindo inquietações. Inquietações valiosas porque apresentam o mistério como face objetiva da imensidão. Essa face misteriosa é o instante inicial da imensidão a provocar a imaginação criadora, aquele desejo incontrolável para dilatar o campo da experiência onde aspectos do desconhecido se revelam e passam a compor o mundo conhecido, com perfil e significado. E aí dizemos que houve progresso do conhecimento. É nesse gesto de busca do desconhecido, encoberto na imponência dos espaços das estrelas e no mundo diminuto dos micro-organismos e das partículas atômicas, que o homem imensifica-se, como se expressou o poeta francês Pierre Albert-Birot (1876-1967): E eu me crio com um traço de pena
Senhor do mundo, Homem ilimitado. Dentro da imensidão o homem em si não é outra coisa, é um universo ilimitado. Ele é grandiosidade e miniatura tal qual o mundo exterior, mas universo premiado com a possibilidade de pensar. Biologicamente, já temos boa medida de quem somos: somos células e bactérias. Célula é a menor parte dos seres vivos e bactérias são organismos unicelulares, ambas com formas e funções definidas nessa composição do corpo do homem. O organismo humano é formado por aproximadamente dez trilhões de células e cem trilhões de bactérias. Apesar de tudo, fisicamente o homem ainda precisa ser desvendado. Seu corpo ainda esconde segredos, independentemente do avanço da engenharia genética e da nanotecnologia. Somos na individualidade física uma imensidão. Não é aí na composição física que a vastidão ilimitada do homem se apresenta em sua grandiosidade. É na capacidade de pensar que o homem ilimitado, senhor do mundo comparece em sua grandeza infinitamente espetacular. É da imensidão íntima contemplando a vida e o mundo que o homem projeta universos incontáveis. Universos cheios de vibrações das individualidades humanas construídas em cada sentimento que medita diante do infinito, por querer, por desejar. Ao pensar e agir o homem abre portais para vastos e misteriosos mundos enlaçados por valores culturais diversificados, sem os quais não vivemos e o mundo todo se ocultaria na eterna repetição de surgir e desaparecer sem sentido, sem razão de ser. O homem é então o mistério dentro do universo. Ao tomar consciência de si e da imensidão que lhe envolve, aventura-se Por mares nunca d’antes navegados (Luis de Camões – 1525-1580) e não para de imaginar novos mundos, novas feições e em acertos e tropeços acena para o longínquo, mundo sintetizado por Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) em seu Poema de Sete Faces: Mundo mundo vasto mundo, / mais vasto é meu coração. Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 01/08/2018
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