Antonio Pereira Sousa

"Aprendi novas palavras e tornei outras mais belas." (Carlos Drummond de Andrade)

Textos


A Teoria
 
Ver o mundo.
Dominar formas de viver capazes de conduzir a vida a encantos.
Para realizar esse intento de perceber o mundo e encontrar a melhor maneira de viver nele, o homem, ao longo dos tempos, foi tomado por questões mais diversas:

    º Quem somos nós? Que estamos fazendo aqui?  Que é isso que temos de fazer?

Questionar e espantar-se sobre a vida é já uma demonstração da existência de uma capacidade especial do ser humano: somos dotados do poder de pensar.
Essa habilidade de pensar leva o homem não só a entender, querer e imaginar, mas também a sentir.  O homem passa ter a possibilidade de perceber o colorido do mundo e poder pintá-lo a seu gosto. É dessa base que nascem nossos propósitos justificados, a indicar a direção que nós devemos tomar e por que é de um modo e não de outro que o fazemos. O filósofo grego Platão (427-347 a.C.) já nos ensinou sobre o alcance do pensamento que interroga:

 
Quando a alma pensa não faz outra coisa senão discutir consigo mesmo por meio de perguntas e respostas, afirmações e negações; e quando, mais cedo ou mais tarde, ou então de repente, decide-se, assevera e não duvida mais, dizemos que ela chegou a uma opinião.

Afirmar uma opinião é atribuir uma certeza construída na alma. Dito doutra forma, é garantir ao olhar uma melhor visão do mundo, porque esse olhar foi elaborado a partir de um conhecimento por conceito, isto é, por uma teoria.
Fazer uma teoria é compor um trajeto de saber pelas possibilidades da faculdade humana. E essa é uma caminhada sem horizontes próximos, pois a cada momento nós nos reinventamos ao sabor de novas buscas e de tal modo isso acontece que a melhor forma de compreender o ser humano é entender que ele é um animal em formação.
Afirmar que o homem é um animal em formação já é em si uma teoria, porque está presente aí uma regra pensada como princípio geral válida para todos nós. De fato, estamos anos luz de encontrar uma solução para a interrogação quem somos nós? Num momento somos sábios e santos, noutro instante descemos a nível da pior brutalidade, a mais vil insanidade. Em razão disso foi que o poeta português Fernando Pessoa (1888-1935) declarou que O homem não sabe mais que os outros animais; sabe menos. Eles sabem o que precisam saber. Nós não.
Nessa tese de Fernando Pessoa, o universo dos outros animais tem como horizonte ele próprio e seu entorno. O homem eliminou esse horizonte de sua vida e instituiu o infinito. No entanto, o infinito é incognoscível ao homem, porque é totalidade. Damos conta de particularidades e já avançamos em alguns pontos. Já falamos de direitos e deveres e cumprimos boa parte deles, já aceitamos a importância da liberdade, igualdade e fraternidade e há sinais de suas realizações mundo a fora.
Habitando o infinito e nessa inspiração da grandiosidade ilimitada da vida, o homem se aventura na busca de novidades em espaços desconhecidos e realiza proposições tais que trazem à luz fatos inteiramente desconhecidos, nunca antes imaginados. Os resultados dessas hipóteses fazem crescer a nossa capacidade de conhecer, revelam trajetos menos sinuosos e abrem à vida tantas outras oportunidades e tantas outras grandezas. A teoria aqui é a hipótese que se inicia como possibilidade, faz-se explicação provisória e facilita a compreensão de fatos novos, agora desvelados em forma de saber.
Com a teoria o universo é sistematizado em conteúdos específicos. Pode-se dizer que teoria é um olhar concentrado e é por isso que falamos em teoria da história, da matemática, da geografia.
Teorizando, vemos o mundo se alargar a nossa frente a limites cada vez mais extensos. Teorizando, assistimos à esperança de uma vida de concórdia enlaçando o sonho do abraço fraterno entre os povos. Dessas possibilidades nasce a contemplação, que é a outra face da teoria: momento de concentração do espírito que liberta as pessoas a investigar o firmamento e contar as estrelas apenas por querer saber. A ver e ouvir o outro somente para sentir a grandiosidade e a beleza do ser que somos: homens dotados do poder de pensar e de teorizar.
 
Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 01/08/2018
Alterado em 01/08/2018
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