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Mundos Imaginados O homem criou mundos que sustentam a nossa condição diferenciada dos demais animais: o mundo da ciência, da religião, da arte, da ética... Surgiram, também, as comodidades dos bens úteis que fizeram a vida ficar mais doce: a casa, o carro, o celular, o computador, as especialidades médicas... Tudo que foi feito envolveu um longo prazo. Tudo aconteceu passo a passo em erros e acertos, em pesquisa, em estudo e experimentação. Benefícios enormes foram acontecendo, possibilitando se alargar cada vez mais as probabilidades de uma vida plena para as pessoas. Cresceram com essas conquistas as ideologias, ideias, convicções e princípios que caracterizam o pensamento dos indivíduos, definindo caminhos, postulando domínios e formas de agir. As divisões entre os homens surgiram desse processo e aí temos as nações, os territórios, as bandeiras e os hinos. O mundo criado em todo seu esplendor ganhou o colorido das bandeiras e a sonoridade dos hinos nacionais que efetivaram a divisão das nações. E as marcas aparecem em todas as etiquetas e na cultura: made in China, in Japão, in EEUU... Olhando-se cuidadosamente, tudo que temos (ciência, religião, arte, ética, ideologias, bandeiras e hinos... e os bens úteis...), tudo foi feito pelo homem numa simultaneidade complexa que impede a certeza daquilo que surgiu primeiro dentre tudo que foi criado pelo homem. Esse olhar cuidadoso apresenta um dado que convida nossa atenção. Existe um motor que impulsiona esse permanente desejo de ação: a necessidade. À medida que carências foram fustigando nossa vida, logo uma saída era procurada. As ciências e as tecnologias avançaram em razão desse desejo de se buscar soluções para nossas necessidades. Aí estão os meios de transporte e as distâncias encolhidas. Temos os médicos, os medicamentos e as dores amenizadas. Existem as escolas, os templos e a vida refletida e com significação. Há os lugares de lazer, os espaços de trabalho e a consciência da utilidade da ação. Inventamos esse mundo e construímos também as atribulações. Fizemos guerras e submetemos o outro a severos sofrimentos. Ficamos proprietários individuais do que foi construído pela experiência coletiva e fizemos surgir com isso o rancor, animosidade que fez o filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679) expressar que o homem é o lobo do homem, apesar de muito antes dele outro Pensador, este bem maior que todos os demais, já ter alertado que é preciso amar uns aos outros (1 João 3). Viver esse mundo sensível onde construímos casas, pontes, aviões e ideias é reconhecer que carregamos em nós uma capacidade especial. Manipulamos materiais e os transformamos em bens originais. Sentimos as dificuldades de viver e formulamos princípios, modos específicos de agir. Esse homem que criou seu próprio mundo vai bem mais longe e inventa um universo mais amplo, de cores mais sortidas, para além do arco-íris, construído primeiramente na intimidade da alma, mundo da imaginação que se exterioriza na estética presente na poesia e na literatura de ficção. A literatura de ficção e a poesia respondem com muito mais força por essa capacidade de construir mundos. É que a imaginação vem da alma do sujeito pensante (literato ou poeta), sem os limites dos demais saberes que têm o dever de apresentar prova do que diz. O sujeito da narrativa poética ou literária reflete com magnitude a sociedade de seu tempo ao apreender valores, concepções, sentimentos presentes nas atividades sociais. Dessa base, o escritor e o poeta pensam novos mundos, elaboram modos de ser e viver como se antecipando o tempo futuro que haverá de acontecer. Mensageiros livres, o escritor e o poeta, diferentemente de todos os demais narradores, não estão presos a tempos ou a circunstâncias e, por isso, inventam mundos inesperados sustentados na finalidade da expressão literária ou poética que é a de agradar, acomodar prazer, proporcionando uma espécie de excedente de percepção e de compreensão sobre o mundo e sobre todos nós. Na constituição desses mundos imaginados, a literatura de ficção e a poesia tornam-se portadoras de saber, ganham propriedades comunicativas ao trazer em si mensagens. Mensagens que fazem alusão ao real, mas elas podem não estar falando precisamente do real. Elas fazem apelo à significação. Aludem à realidade, evocam a realidade, representam o real e, assim interpretam, compreendem e conhecem a vida e o homem, livremente inventam novos mundos. Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 02/08/2018
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