A Idade Do Homem
Viver é desenvolver experiências, é caminhar atento atravessando planícies, planaltos. É ultrapassar abismos e fronteiras num esforço de conquistar a alegria de ser e de caminhar. O poeta e escritor espanhol Antonio Machado (1875-1939) nos ajuda nessa tarefa de compreender o dilema de nossa marcha: os caminhos não existem, nós os construímos no caminhar. O que há é o Norte. Cada um deve eleger aquilo que deseja alcançar, tendo a noção exata do esforço que deve desprender para isso: Caminhante, são tuas pegadas
o caminho e nada mais; caminhante, não há caminho, se faz caminho ao andar. Somos todos nós caminhantes do tempo. E quanto tempo nós temos para isso ou quanto tempo já utilizamos na vida que vivemos? Quem, com sucesso, poderá dizer a idade de alguém? Com que medidas se estimam as idades? Seria pelo passar dos anos, pelas experiências vividas, pelo modo como se agiu e se relacionou com os demais ou pela intrepidez das decisões? Seja como for, ainda que amplamente variado o olhar sobre o percurso de uma vida, o que é preciso considerar, fundamentalmente, é que todos nós buscamos um paraíso, uma alegria, um modo feliz de viver, transfigurado no bem estar próprio e da família. Na alma do homem há, então, a busca e a alegria. Essa inquietude da busca que vislumbra a alegria no horizonte fugidio, ela (essa inquietude) é que realimenta o interesse de viver, de olhar para cima, de produzir um novo cotidiano e conviver com o novo. E aí não há envelhecimento possível, porque o sujeito se harmoniza com o tempo presente e se abre para o tempo novo do amanhã. Nessa trajetória, tendo-se vivido um pouco mais e já experimentado tempos e contratempos, pode-se por em prática a memória das venturas e desventuras do passado. Com este gesto, o sujeito do presente se equilibra no já experimentado e dispõe de margens mais amplas para decidir, aceitar, negar, ir em frente ou recuar. A essa prática da memória que sabe auscultar o passado, pode-se associar outra memória, a voltada para a ação, agora feita de hábitos e capacitada para realizar um mundo novo com os instrumentos do novo tempo. É a reabertura de perspectivas. Ora idade! Que idade? A mocidade do homem não se eterniza em sua capacidade de iniciar algo novo? Veja a vida: os feitos substituem seus autores. Os fundamentos criadores das máquinas inventadas nos séculos passados estão presentes na mais avançada tecnologia atual. Os princípios norteadores do “amai-vos uns aos outros...”, do início da era cristã, são tão modernos que ainda estamos aprendendo a sua prática. Por isso mesmo, ainda que brancos e ralos os cabelos, ainda que a marca dos anos diferencie um corpo de outro, qual seria mesmo idade do homem que sabe responder com habilidade as questões do tempo presente? Se o tempo humano é o domínio das astúcias, das táticas, das artes de fazer de um dado grupo social, nesse desejo de realizar e manter a vida, sendo isso, o homem que vive e vibra com o tempo presente tem que idade? Que idade podemos dar a essa alma que a todos abraça e enche de alegria onde está e por onde passa e que faz a vida ser mais colorida e ampla de afeto? Que idade tem o homem que faz acontecer e está pleno de esperança? Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 02/08/2018
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |