A Construção Do Tempo O homem vive uma materialidade feita de diferentes rotinas, umas simples, outras complexas, todas inventadas para permitir a vida social. Mais do que isso, para se encontrar o melhor modo de viver essa vida social. Nesse sentido é que elaboramos os bens úteis para permitir essa existência. Precisamos nos alimentar, manter a nossa saúde, criar facilidades de comunicação, divertir-nos, entre outras necessidades. Pode-se dizer que o tempo é esse domínio das astúcias, das táticas, das artes de fazer, próprios dos grupos sociais, nesse desejo de realizar e manter a vida. Assim, cada grupo, em cada espaço, elabora o seu próprio tempo, sua forma de conduzir a vida, com certa originalidade, dado ao condicionamento que o espaço impõe nesse exercício de viver, a par das possibilidades concretas que se tornaram possíveis na formação do grupo social. Isso nos leva a pensar que o tempo (as astúcias, as táticas, as artes de fazer) que faz a vida existir e permanecer é plural. A vida, assim, se realiza de maneiras diferentes em cada canto do mundo. O significado disso é que, para se conhecer historicamente uma sociedade, devemos compreender de que forma o modo de agir foi construído pelos grupos, na individualidade da realização específica de sua luta pela vida. É por essa razão que o conhecimento das sociedades resulta sempre de estudos específicos, como expressou o historiador francês François Furet (1927 – 1997): [...] a idéia de uma história total é inapreensível. O tempo assim compreendido, revelando o modo como os sujeitos sociais operaram suas ações em busca de realizar seus desejos, é um desvendamento de sentidos e significados. Fazer essa leitura, então, é perceber os sujeitos realizando sua cultura, sua forma específica de existir e de ser. Essa visualização identifica diferenças instituídas entre grupos sociais por se mostrarem através de suas realizações dentro de [...] um processo de luta que ocorre em torno dos recursos simbólicos e também dos recursos materiais, na consideração do historiador italiano Giovanni Levi (1939 -). Estamos falando de um tempo plural, de uma cultura plural, estamos reconhecendo que cada grupo, maior ou menor, em cada canto do mundo, estabelece socialmente o seu jeito de ser. Constrói o seu tempo e, assim, os estudos de história, como narrativa do vivido, sendo o que são, uma compreensão das ações sociais dos indivíduos e grupos, alcança maior inteligibilidade se sua abordagem enfocar a singularidade da realização dos respectivos grupos. E aí veremos a vida fluir com muito mais realidade. Aqueles sentimentos de alegria, tristeza, coragem, entusiasmo, que estão presentes na ação, ganham mais cor e revelam melhor quem somos: baianos, pernambucanos, paulistas... Nessa perspectiva, o antropólogo estadunidense Clifford James Geertz (1926-2006) expressou: “Olhar as dimensões simbólicas da ação social – arte, religião, ideologia, ciência, lei, moralidade, senso comum – não é afastar-se dos dilemas existenciais da vida em favor de algum domínio empírico de formas não emocionalizadas; é mergulhar no meio delas”. O tempo aqui analisado é o tempo humano. Tempo que se relaciona e depende do tempo físico, mas é distinto deste. O tempo humano é interior em nós e não podemos medi-lo, é incomensurável. O tempo físico, diferentemente, é exterior a nós e podemos medi-lo em horas, anos, séculos, eras. O tempo humano é a dimensão de nossa realização na Terra anunciada em todas aquelas invenções que se fizeram úteis a nossa vida. Veja-se que o tempo do homem que fez o carro de boi e o utilizou como meio de transporte é diferente do tempo do homem das viagens interplanetárias. Assim, também, se nota a diferença entre os tempos da máquina de escrever e do computador, das caravelas e dos transatlânticos. Contudo, a maior de todas as invenções, que mostram mais do que nossas igualdades e diferenças, é a invenção do passado e do futuro. Sem o passado nada somos, sem futuro nada seremos: “Esquecer o passado é negar toda efetiva experiência de vida; negar o futuro é abolir a possibilidade do novo a cada instante” - Adauto Novaes. Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 06/08/2018
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