Antonio Pereira Sousa

"Aprendi novas palavras e tornei outras mais belas." (Carlos Drummond de Andrade)

Textos


A Escrita Da História
 
Olhar o mundo: ver a sociedade movimentando-se em busca de manter e proteger os indivíduos e os grupos sociais. Compreender o mundo: examinar as ações, os modos de agir e reagir que fizeram a sociedade tomar decisões e estabelecer rumos. Viver o mundo: envolver-se com as questões de seu tempo e buscar soluções para os impasses que afligem o corpo social.
Ver todas essas coisas, entendê-las e considerar suas razões de ser são o que fazem os estudos de história (a historiografia). A escrita da história é essa grandeza que nos revela quem somos e aponta a direção de nossa caminhada. Mas é preciso saber auscultar bem esse movimento do mundo social, reconhecer os sinais dos sacrifícios que fizeram as vitórias surgirem, perceber o multicolorido das imagens que chegam até nós anunciando desânimos, entusiasmos.
A história pode ser:
º A realidade social em que vivemos.
º A escrita que o historiador realiza sobre a realidade social.

A história, num primeiro momento, é toda essa agitação da sociedade representada nos esforços da busca do pão de cada dia, da procura da formação profissional, do empenho em alcançar confortos materiais, do desprendimento de santificação ao dedicar-se a preceitos religiosos. Tudo isso é a história realidade, ela é tudo aquilo que os homens fazem para viver, na paz e na guerra, nos instantes de lazer e de trabalho. Nesse sentido é que Karl Heinrich Marx (1818-1883) afirmou: “Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem como querem, não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”.
No outro conceito, a história já não é a realidade vivida, é o livro, o texto, a escrita resultante da pesquisa realizada pelo historiador. Dessa forma, o que sabemos do passado não é a realidade tal qual aconteceu, é a versão do historiador que foi construída a partir de fontes deixadas pelo movimento da sociedade de um determinado tempo e espaço. Aqui nós entramos em outros níveis de preocupação. Surgem questões de quem é o historiador que está refletindo sobre um dado processo histórico, porque cada um de nós carrega em nossa alma as influências das circunstâncias com que nos defrontamos diretamente. A escrita da história (historiografia) é o olhar do historiador que pesquisou e escreveu seu texto, seu livro. 
Acontece que todo olhar se reveste de um tecido ideológico que qualifica o sentimento de ver. Um mesmo acontecimento pode ser visto de diferentes ângulos e por diferentes formas de sentir, ou seja, todo enredo histórico é infinitamente interpretável.
Um conhecimento desse nível em que se distingue uma história acontecimento de uma escrita da história acrescenta a nosso olhar uma riqueza intelectual valiosa. A partir dessa noção, cada leitor assume uma condição de sujeito: ler interrogando. Como o olhar de cada um de nós é específico, vem de uma experiência única, ler, então, é interpretar a escrita realizada por outros, é decifrar códigos que os textos concebem ao falar sobre a vida ativa dos homens. Discordar, aceitar, pedir mais detalhes, fazer leituras complementares são atos naturais do leitor ativo.
E o que queremos com o conhecimento histórico? Ou seja, este conhecimento serve para alguma coisa? Serve sim.
Vejamos um exemplo desse valor do conhecimento histórico na justificativa do historiador francês Georges Duby (1919-1996): “Para que escrever a história, se não for para ajudar os contemporâneos a ter confiança em seu futuro e abordar com mais recursos às dificuldades que eles encontram cotidianamente?”
A ideia é essa. A escrita da história é uma versão do que aconteceu num dado passado. Conhecemos os modos como lutaram as pessoas para conseguir suas vitórias, ao decidir seu rumo. Vamos notar que houve esforço sem fim e nem tudo que se desejou fazer foi possível realizar. Isso importa entender que, em cada tempo, a sociedade cumpre seu papel e efetua certas tarefas. A geração seguinte fica com o dever de prosseguir. É como num revezamento da corrida com bastão:

"O revezamento é uma prova de pista do atletismo. São corridas entre equipes de quatro atletas que devem cumprir, cada um deles, uma quarta parte de percurso. Ao término de sua parte o atleta deve passar um bastão ao companheiro que lhe sucede. O mais veloz, após vencer o esforço, assumirá o pódio, as medalhas, os louros".

Nesse sentido, é dever de cada um investir nesse processo de fazer o mundo ser mais justo, menos desigual, mais alegre, pódio da sociedade, lugar de todos, independentemente da cor da pele e da origem de nascimento.
 
Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 06/08/2018
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