Antonio Pereira Sousa

"Aprendi novas palavras e tornei outras mais belas." (Carlos Drummond de Andrade)

Textos


Um Novo Tempo
 
Por que estamos todos tão apressados?
O mundo físico, nosso planeta Terra, este nosso espaço de morada nada tem a ver com a vida acelerada das pessoas. As projeções cartográficas da Geografia Física testemunham que as mudanças do mundo físico ocorrem vagarosamente.
O Sol, rotineiramente por eras e eras, surge ali todos os dias no mesmo horário iluminando a Terra que o corteja em sua rotação. É um tempo exterior à vontade do homem. Tudo segue numa repetição eterna independentemente de nossos sentimentos.
O homem, sabendo que o tempo do mundo físico está fora de seu domínio, criou o seu próprio tempo. O tempo humano.
Um tempo humano é a conhecida periodização que foi instituída para dar nome a nossa caminhada na história: Antiguidade (3.000 anos a.C. ao Século V), Idade Média (Século V a XV), Idade Moderna (Século XV a XVIII), Idade Contemporânea (Século XVIII a XXI). E já se fala numa Idade Pós-Moderna, a partir das grandes viagens através do espaço sideral e com a desestabilização do capitalismo e do socialismo no mundo ocidental.
Em cada um desses períodos o homem desenvolveu uma atividade social diferenciada. Cada período tinha suas próprias características políticas, religiosas, educacionais, econômicas, culturais, fontes das decisões que influenciaram atitudes mais diversas e até contraditórias.
Observando-se bem, as mudanças no tempo humano vêm se acelerando a partir de alterações de nossos interesses, na forma como organizamos nossa vida:
º A Antiguidade durou 35 séculos;
º Idade Média: 10 séculos;
º Idade Moderna e Idade Contemporânea 6 séculos.
Até a Idade Média, a vida social desenvolvia-se sem segredos. Todos sabiam quem mandava e quem devia obedecer. Cada um conhecia o “seu lugar”.  Pode-se dizer que tudo estava estabelecido por longa data, as novidades eram bem poucas. Os papéis de cada um estavam bem definidos. Restava a todos cumprirem suas obrigações. Em regra, na Antiguidade e na Idade Média os indivíduos não eram titulares de direitos. Os questionamentos eram sufocados pelo poder do Soberano ou da Igreja Católica, fazendo uso de artifícios persuasivos como trabalhos forçados (Estado) e fogo do inferno (Igreja).
Claro que dentro de cada período o germe da transformação estava se elaborando. Cada período anterior gestou o período seguinte. As raízes do tempo seguinte estão presas no tempo anterior e se nutrem de seus acertos e de suas contradições. Somos, assim, o passado que incorporou novidades ao presente e se tornou um novo tempo.
Por que estamos acelerando o tempo humano de uns tempos para cá?
Porque estamos inventando a cada momento novos valores e novos bens e logo os descartamos, em lugar de cultivá-los, deixando-os depurar com o tempo, assim como se purifica o bom vinho.
Será que estamos entrando mesmo em um novo tempo?
Ainda convivemos com algumas crenças de que daremos jeito na desordem social, utilizando os méritos das ciências. Ainda pensamos que a história estará andando para algum lugar, para um ponto onde viveremos em paz, porque a ordem se estabelecerá. Ainda acreditamos que a utopia de um mundo melhor nos acolherá num reino de liberdade e fraternidade.
Mas o que a realidade social está nos mostrando?
Nesse novo tempo já presente, denominado de pós-modernidade, o futuro perde sua força e parece dissipar-se, a desaparecer. O hoje, o agora é que importa. Não há mais necessidade de projetos, porque vivemos cada dia na maior intensidade possível, como não existisse o amanhã. Já não há necessidade de estruturas (famílias, escolas, igrejas...) porque o sujeito se considera livre e já não obedece a nada. Estamos quebrando a solidez da Idade Moderna ao destruir um dos mais significativos pilares da racionalidade: a segurança. A única lei a que ainda nos submetemos é a lei do mercado. O velho filósofo e economista escocês Adam Smith (1723-1790) profetizou essa questão quando afirmou: “O homem só é livre quando participa do mercado”.
Vê-se, então, que a pós-modernidade criou um novo silogismo, um novo raciocínio dedutivo: posso comprar, logo sou livre. Esse novo silogismo atribui valor absoluto ao bem de uso, tornando sagrada a sua posse, independentemente de sua função social.
Não há como fugir, é preciso passar a imaginar a vida dentro desse novo tempo que está nos envolvendo, compreender suas características e apegar-se em alguns detalhes que ofereça segurança dentro do movimento: “Mesmo quando tudo pede / Um pouco mais de calma /Até quando o corpo pede / Um pouco mais de alma / A vida não para [...]” (Composição de Lenine e Dudu Falcão – Paciência).
 
Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 06/08/2018
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