O Tempo Em Movimento Na vida ativa, o homem empreende ações diversas em busca de continuar vivendo. Um desses achados que contribuiu para a vida humana fluir foi viver em sociedade. Em regra, não há possibilidade da vida individual autônoma, do sujeito satisfazendo por si mesmo a todas as suas necessidades. Porque isso é fato, porque viver em sociedade ganhou essencialidade, ela mesma, a vida social, engendrou as diferentes formas de relação que se estruturaram nos modos conhecidos: o modo familiar, educacional, religioso, trabalhista, entre outros. Todos esses modos se combinam, inter-relacionam-se entre si, numa interdependência que anula a hierarquia de valores. Cada uma dessas estruturas se torna tão importante quanto à outra. Todo esse sistema de relação (familiar, educacional, religioso entre outros) é fundamental para o sujeito viver. Esse arranjo dessa feição social estimula o desenvolvimento da humanidade de cada indivíduo, nesse processo de defesa do aperfeiçoamento daquelas relações que vão possibilitando melhor se usufruir da própria vida, no uso e gozo coletivo das diferentes conquistas dos sujeitos sociais. O conjunto dessas relações sistematizadas, que compõe cada uma dessas estruturas sociais, instituiu-se como resultado do exercício empreendido a partir das necessidades de grupos, tendo presente as diferentes possibilidades de seu tempo e espaço. Essas possibilidades condicionaram a ação social nas formas de deliberar, associar-se, resistir, conformar-se, mundo que envolve a força das ideias reconhecidas nas lutas políticas, na defesa do bem comum e se sustenta na materialidade dos instrumentos já possíveis em cada tempo, a exemplo da enxada, do trator, computador, telégrafo, da fibra ótica, do laser e outros. Todo esse jogo do existir é o tempo em movimento. O tempo, nesse sentido, são esses modos de viver instituídos, que nos fizeram ser conjunto de relações reconhecido como família, escola, religião, trabalho... Mais que isso, o tempo são ainda essas probabilidades influenciadoras dessa ação social que decide, aceita, nega, contesta, nesse envolvimento com a cotidianidade dos sujeitos sociais. É nesse esforço da realização do cotidiano que os projetos pessoais ganham corpo e alimentam a vontade de se persistir na luta do dia a dia, validando ou reformando os projetos iniciais, numa espécie de realimentação permanente, que faz a caminhada na vida ganhar nova esperança a cada momento. Viver, nesse caso, não é apenas contentar-se com a realização do presente, mas determinar-se na formação de um futuro e, assim, nesse fazer-se dos indivíduos, a história se realiza, a vida social vai garantindo o seu percurso idealizado na definição de um alvo, de um ponto distante a alcançar, representado num estágio de relações sociais mais adequados que o do presente, um tempo novo onde a vida seja mais venturosa. Examinando esse tema, o filósofo Ernst Cassirer (1874-1945), em seu Ensaio sobre o Homem... afirma que “[...] O homem não pode fugir à sua própria realização. Não pode senão adotar as condições de sua própria vida”. A aventura do homem é essa mesma, a de caminhar em busca de um alvo como fundamento para viver, sem poder dispensar a convivência social e reconhecer a existência de um percurso que, inevitavelmente, há de se realizar. É nesse sentido que se combinam cotidianidade e projeto. Nesse movimento, podem ocorrer retrocessos resultantes de desvios cometidos no jogo de interesses entre os indivíduos. O projeto a se realizar e o trajeto a se percorrer funcionam como uma espécie de motor social. Entender a vida cotidiana como resultado desse encontro do projeto e da trajetória, é sentir o movimento do tempo acontecendo nas diferentes realizações dos sujeitos. É notar o carro de boi sendo substituído pelo caminhão como meio de transporte, a velha e amiga máquina de escrever cedendo lugar ao computador, a pedagogia do castigo abrindo espaço para o diálogo entre iguais. É enxergar o movimento social da vida se refazendo em novo modo de viver e em novos sonhos, como no mistério espontâneo do acontecer da natureza mãe, genialmente pensado por Gaston Bachelard (1884-1962) em sua Poética do Espaço: “[...] A flor está sempre na semente”. É como se compreendesse que o futuro existe agora, no presente. Fertilizando bem este presente com as virtudes já conquistadas pelo mundo social, a esperança é que o amanhã aconteça com menos arestas: “A flor está sempre na semente”. A história, assim, é um jogo de permanência e mudança. Jogo que somente se mostra na simultaneidade da convivência dos componentes de tradição e modernidade mantidos numa relação de reciprocidade, em que um componente não sobrevive sem o outro, o que gera um constante movimento do tempo. Gilberto Gil (1942) em sua poesia Tempo Rei oferece um pouco de luz à compreensão do movimento do tempo: Não me iludo
Tudo permanecerá Do jeito que tem sido Transcorrendo Transformando Tempo e espaço navegando Todos os sentidos... [...] Não se iludam Não me iludo Tudo agora mesmo Pode estar por um segundo... [...] Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 06/08/2018
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