Antonio Pereira Sousa

"Aprendi novas palavras e tornei outras mais belas." (Carlos Drummond de Andrade)

Textos

A Intuição
 
 
A humanidade já acumulou um vasto conhecimento no longo de sua existência.
Conhecimento este produzido pela vida ativa dos sujeitos, dentro e fora das academias. A articulação é a mesma. Para conhecer, o sujeito há de fazer contato com o objeto de conhecimento. Essa tese se sustenta no ensinamento do velho filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.): “Nada está no intelecto sem antes ter passado pelos sentidos”.
É esse vasto contato com o mundo exterior, de realidades mais diversas, que atribui a cada um de nós uma experiência particular. Essa individualidade, condicionada pela experiência particular, cria a nossa capacidade de apreensão do mundo e constitui o modo de sentir, agir e reagir de cada um.
Num primeiro momento, esse mundo é alcançado de forma pré-reflexiva: o homem utiliza-se daqueles modos de sentir, agir e reagir de seu grupo. Aqui acontece certa uniformidade que tenderia a se esclerosar não fosse a ocorrência de um novo instante, onde a individualidade se estabelece e cada pessoa cria suas variações dentro da sociedade, despertando novos sentimentos, novas sensibilidades, ações e reações, tudo assumido de modo bem particular, em forma de diferentes saberes.
Vivemos esse mundo dos saberes.
Saberes que nos permitem apreender realidades e dominar códigos e métodos capazes de revelar caminhos, saídas, perspectivas.
A intuição é fruto de todo esse saber acumulado e atualizado pelo homem.
A intuição pode ser considerada como um saber que se liberta de nossa experiência e reconhece fatos de nossa própria existência de forma espontânea. Não é o exercício de métodos e técnicas aplicadas à pesquisa em busca de encontrar resultados. É o relampejo da alma que vibra em reação inesperada e que traz para nossa presença possibilidades de acontecimentos ou realizações. Nesse sentido, o filósofo e diplomata francês Henri Bergson (1859-1941) sentencia: “Intuição significa principalmente consciência, mas consciência imediata, visão que mal se distingue do objeto visto, conhecimento que é contato e até coincidência”.
A intuição sendo isto, uma faculdade do homem, formada por sua capacidade de compreender o mundo através do conhecimento, ela (a intuição) requer mais a mais lucidez sobre a vida e sobre o mundo. Importa dizer que o desenvolvimento cuidadoso e permanente do saber, nos bancos escolares ou fora deles, torna o espírito de cada um de nós mais erudito, mais ilustrado. Essa erudição é a abertura para a visão súbita dos caminhos, saídas e perspectivas que fazem evoluir a vida individual e social para patamares mais saudáveis.
É nesse exercício exaustivo da inteligência que as luzes da intuição iluminam com maior intensidade aqueles caminhos, saídas e perspectivas já citados e nos possibilitam ouvir melhor a voz que parece vir de dentro quando é preciso tomar uma decisão para poder agir ou reagir ou, como Bergson disse:
 
A intuição é esse sutil pressentimento do verdadeiro e do falso, que tem podido descobrir entre as coisas, bem antes da prova rigorosa ou da experiência decisiva, das incompatibilidades secretas ou das afinidades insuspeitadas.
 
É como se uma capacidade profética apoderasse do sujeito e teimasse em mostrar o que a razão individual ainda não percebeu. Fora da lógica e inesperadamente somos alertados a agir ou reagir. É como se inexplicavelmente a inteligência capturasse caminhos, saídas e perspectivas ainda desconhecidos, revelando, de súbito, seus significados.
O papel da intuição seria, então, aquele de projetar uma luz em volta do indivíduo, sinalizando, ainda que de relance, possibilidades impensadas.
A intuição passa a ser uma interpretação antecipada de fatos e se torna um modo de conhecimento ao nos ensinar a ver o ainda não sensível, aquilo que é apenas possibilidade. Vale observar a experiência de Steve Jobs (1955-2011), o empresário e inventor americano, fundador e ex-presidente da empresa de eletrônicos Apple:
 
Não deixe o barulho da opinião dos outros abafar sua voz interior. E mais importante, tenha a coragem de seguir seu coração e sua intuição. Eles de alguma forma já sabem o que você realmente quer se tornar.
Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 16/08/2018
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