O Canto — O Encanto
Este artigo é uma leitura da canção O Que É, O Que É do cantor e compositor Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior (1945-1991), mais conhecido como Gonzaguinha. O Que É O Que É alcançou uma sintonia fina com o público. Na voz de Gonzaguinha, esse canto de alegria eclodiu em brilho tão intenso e multicolorido que embeveceu plateias Brasil a fora. Ler essa poesia de Gonzaguinha e ouvir a canção O Que É O Que É é se envolver nos múltiplos significados produzidos nessa harmonia de letra, melodia, acompanhamento instrumental, voz, tudo pontuado de forma plena no momento da atuação, neste instante em que o texto musical se exibe, seja na apresentação ao vivo ou midiatizada por tecnologias como rádios, TVs, computadores e outros. Presentes no ato da execução, o canto musical compõe-se de letra, melodia, acompanhamento instrumental e voz. A genialidade comparece quando o autor consegue fazer surgir a harmonia entre esses elementos. Aquilo que era letra, melodia, acompanhamento instrumental, voz, apresentação transformam-se em arte, ao despertar a emoção que faz desenvolver nossa humanidade, abrindo a consciência ao reconhecimento de que existem belezas no mundo e que a emoção do canto sublima a alma. A canção O Que É O Que É alcançou essa capacidade de fascinar a alma. A sua letra é uma poesia lírica e ela acolhe sentimentos de confiança de que a vida pode ser feliz, basta comprometer-se nessa busca a descobrir caminhos, como um eterno aprendiz que sempre somos: Viver! / E não ter a vergonha / De ser feliz / Cantar e cantar e cantar / A beleza de ser / Um eterno aprendiz... Ler cada verso desta canção é descortinar um mundo se elaborando sem culpa, ainda que cheio de contratempos a impedir o riso, em face de dores ainda tão disseminadas: Ah meu Deus!/ Eu sei, eu sei / Que a vida devia ser / Bem melhor e será /Mas isso não impede / Que eu repita / É bonita, é bonita / E é bonita... Na leitura deste texto poético, mesmo àqueles que não cantam, auscultam a grandeza da musicalidade criada pelo autor. Embora possa ter havido um momento inicial de independência de letra e depois ter surgido a melodia ou vice-versa, a melodia e depois a letra, agora, depois que a harmonia fundiu letra, melodia, acompanhamento instrumental, voz, tudo moldurado pela apresentação, agora temos um único elemento, a canção, temos agora O Que É O Que É de Gonzaguinha. E a vida / Ela é maravilha / Ou é sofrimento? / Ela é alegria / Ou lamento? / O que é? O que é? / Meu irmão... É essa energia da canção, que irradia sentimentos em forma de som, que carrega em si mensagens. Mensagens puras que falam das coisas absolutas, eternas, consagradas nos espaços de sublimidades, artes desinteressadas de funções sociais, quase que feitas somente para a apreciação dos deuses: Há quem fale / Que a vida da gente / É um nada no mundo / É uma gota, é um tempo / Que nem dá um segundo... Há quem fale / Que é um divino / Mistério profundo / É o sopro do criador / Numa atitude repleta de amor... Noutros instantes, essas mensagens, acentuadas pela letra da canção e matizadas por sua melodia, dramatizam, interrogam, vão ao social e se indispõem e, nisso, ensinam caminhos: Você diz que é luta e prazer / Ele diz que a vida é viver / Ela diz que melhor é morrer / Pois amada não é / E o verbo é sofrer... Eu só sei que confio na moça / E na moça eu ponho a força da fé / Somos nós que fazemos a vida / Como der, ou puder, ou quiser... Mas a vida é muito mais do que imaginamos saber... Quantas significações há que comovem em alegrias ou tristezas? E quantas perguntas e respostas novas cada tempo requer? Sabendo disso, dos limites descritivos deste momento, Gonzaguinha devaneia: Sempre desejada / Por mais que esteja errada / Ninguém quer a morte / Só saúde e sorte... E a pergunta roda / E a cabeça agita / Eu fico com a pureza / Da resposta das crianças / É a vida, é bonita / E é bonita... Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 20/08/2018
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