Antonio Pereira Sousa

"Aprendi novas palavras e tornei outras mais belas." (Carlos Drummond de Andrade)

Textos

A Modernidade (I)
 
O mundo social em que vivemos agora não é o mesmo mundo de séculos atrás, nem mesmo o mundo de décadas atrás.
Há aspectos sociais revestindo as ações dos homens enquanto convivem, marcando diferenças, acentuando contraposições e criando juízos de valores distintos, fundados nas experiências objetivas resultantes de 1.001 contingências.
Estamos todos no mesmo planeta, mas em mundos sociais diversos e, vezes, bem antagônicos nos interesses. E isso não é um mal em si. Muito pelo contrário, é um bem. É essa contraposição de anseios que produz a necessidade do diálogo, do desenvolvimento da razão. Dialogar é caminhar em direção do reconhecimento das diferenças e de suas virtudes.
No andamento do processo histórico do homem, há períodos que apresentam certas características predominantes, diferenciando-se grandemente de outros. As diferenças se fazem pelo modo como esta ou aquela sociedade vive, convive e domina suas artes e táticas, colocando a sua disposição os bens de seu tempo.
Esses períodos históricos têm sido denominados de Pré-História (dos tempos remotos até 4 mil anos antes de Cristo); Antiguidade (4 mil a.C a 476 d.C.); Idade Média (476 a 1453); Idade Moderna, que se estende de 1453 a 1789, segundo uns, ou até nossos dias, segundo outros. Há ainda quem denomina o período pós 1789 de Idade Contemporânea. O século XX e XXI já seria a Pós-Modernidade.
Essa datação (começo e fim de um determinado período) não significa que o mundo se transforma completamente na passagem de um período para o outro. As divisões são referenciais que facilitam o estudo do passado, mas não ditam quando a cabeça dos homens exatamente mudou. Existem apenas tendências dentro da sociedade de mudanças de hábitos, atitudes, desejos e aspirações. Vagarosamente, essas tendências se instalam.
No final da Idade Média, o pregador da razão e da prudência, Tomás de Aquino (1224/5-1274), ao formular seu amplo sistema filosófico, que conciliava a fé cristã com o pensamento do grego Aristóteles (384-322 a.C.), sentenciou: A história é realizada pelo homem, sob inspiração divina
Mais tarde, Nicolau Maquiavel (1469-1527), reconhecido como fundador da ciência política moderna e autor do clássico O Príncipe, escrito em 1513, altera a afirmação de Tomás de Aquino e coloca o mundo histórico sob responsabilidade pura do homem: O homem é dono de seu destino. Entramos no domínio do Empirismo, da corrente de pensamento que acredita nas experiências como únicas (ou principais) formadoras das ideias. O homem é quem faz sua própria história.
A modernidade está surgindo. O homem histórico terá que assumir a condição de sujeito de si, sem transferir essa responsabilidade para qualquer outra instância. O que passa a definir o espírito da modernidade é a independência, autonomia e liberdade, inspirações estas abrigadas pela Revolução Francesa (1789) que proclamou os princípios universais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Estamos na modernidade? Esses fundamentos de independência, autonomia e liberdade já são plenos? Se a sociedade não vivencia plenamente essas práticas, então, mal estamos entrando na modernidade.  Ainda estamos aprendendo a lidar com essas grandezas da conquista da razão humana: independência, autonomia e liberdade.
Importa compreender que há uma necessidade de emancipação do indivíduo, ou seja, há necessidade de inserir a realidade humana nesse processo da história moderna, da realização da independência, autonomia e liberdade. Os desencontros sociais de toda ordem têm demonstrado que esses objetivos da modernidade estão ainda, em grande medida, no plano das ideias. Ainda não nos emancipamos, estamos na menoridade.
O filósofo prussiano Immanuel Kant (1724-1804) denunciou com segurança essa questão: A menoridade é a incapacidade de fazer uso do seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. Estamos ainda tutelados por nossa pura culpa de não ter a devida coragem de usar os saberes produzidos pela razão humana que começou a se instituir lá distante, 400 anos antes de Cristo, com os gregos: O homem é um animal racional – Aristóteles (384-322 a.C.). A modernidade é o novo palco onde a razão grega é novamente posta em ação.
Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 20/08/2018
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