Antonio Pereira Sousa

"Aprendi novas palavras e tornei outras mais belas." (Carlos Drummond de Andrade)

Textos

Abstração
                                                                                    
Faces.
Em razão dessa capacidade humana de pensar, nosso mundo é mais do que pura objetividade, materialidade sensível aos nossos cinco sentidos.
A sua outra face é a subjetividade, que resulta desse modo como atribuímos significados, possibilidades e valores sobre tudo que há. E nisso, a subjetividade é plural, formada que é através de olhares individuais, moldados por experiências e histórias de vida.
É, em razão dessas faces do mundo, que um jardim é mais do que um espaço com flores, é um lugar de encantamento da alma, ali onde o estímulo ao prazer se desenvolve e promove o riso e possibilita inspirações poéticas a dizer da existência de um lado belo da vida, embora se saiba de mundos sem cores, com suas incompreensões e conflitos.
A abstração aparece aí, nesse processo de ver o mundo pelo pensamento, em que as ideias se distanciam da materialidade sensível dos objetos, numa espécie de autonomia, de fuga de necessidades circunstanciais, a se bastar a si mesma, com o poder de ser causa de si própria.
Abstrair-se seria devanear? Seria imaginar coisas sem nexo com a materialidade vivida? Seria navegar por mundos possíveis a estimular a busca impetuosa de outros encantos, desobedecendo certezas e caminhos já traçados?
Nesse descolamento da materialidade do mundo, a abstração é uma evasão, uma fuga que parece buscar um deleite, ali onde os embates da existência se dissolvem, a permitir o prazer surgir como a chave que abre o portal ao mundo, porque se reveste de intenções estética do gosto.
É dessa base das preferências estéticas do gosto que o mundo multicolorido das ideias se diversifica e até se contrapõe ao construir finalidades, fazendo-se plenitude da abstração.
Ocorre que é no mundo vivido que o prazer deve acontecer, isso equivale dizer que o prazer deve ser considerado como conteúdo do desejo, ou melhor, um e outro (prazer e desejo) estão dentro de coordenadas históricas e sociais bem determinadas, dentro de mundo com suas múltiplas sinuosidades, a que submete até mesmo a poesia e faz o mundo da subjetividade ser um aspecto da objetividade dominante.
Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 03/04/2020
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