Lidar com emoções.
Os afetos são sensibilidades da alma. A emoção é um afeto? No ponto de vista do pensador Espinosa (1632-1677), há somente um afeto, a alegria. Aquele instante que provoca o aumento de nossa potência de agir e que gostaríamos que nunca se acabasse, fosse eternizada. Um exemplo? O poeta Vinicius de Moraes (1913-1980), no final de seu Soneto de Fidelidade, ressalta:

“Eu possa lhe dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.”

Ora, sendo a alegria o único afeto, resultante dos bons encontros, que se pode dizer do amor? O amor é uma alegria atribuída a uma causa externa. Esse mesmo poema de Vinicius de Moraes, Soneto de Fidelidade, trata dessa alegria já no primeiro verso, e há uma mulher dando causa a esse amor:

“De tudo, ao meu amor serei atento antes
E com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento”

Sendo assim, pode-se dizer que a tristeza é o resultado de um mau encontro e que reduz nossa potência de agir. A tristeza é a falta de alegria. A alegria sendo o único afeto, ela é a substância primeira que formam os demais sentimentos, é raiz e berço para a vida humana em ação. Um exemplo? A emoção é uma variação da paixão gerada por uma imensa alegria ou por uma desmedida tristeza.
Na lembrança de que essa alegria e essa tristeza são resultantes de um bom ou mau encontro com o mundo, a ideia é procurar suavizar essa causa externa para frear ou domar a paixão, o que colocaria a emoção sob controle, como Vinicius propõe na segunda estrofe de seu Soneto de Fidelidade:

“Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.”