Amor (I)
Amar.
“Que pode uma criatura senão entre criaturas, amar?” Pergunta o poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), em seu poema Amar. Doce interrogação a divinizar a existência de tudo quanto há. Divinizar. Tornar sublime, ter qualidades enriquecedoras, alegradoras, essencialidades a envolverem a vida e o universo, tudo quanto há. “Que pode uma criatura senão entre criaturas, amar?” Eis a pergunta que já oferece a resposta. Frente a essa imensidão indizível, a vida ganha essencialidade e nós, como parte desse mundo imenso, reconhecemo-nos parte desse universo e, em face de sua grandeza, a ação maior é amar. Criaturas entre criaturas em permanente contato, em convivência entre harmonias e contraposições, frente à imensidão indizível, claudicamos sempre, reconhecemos nossa pequenez intelectual, nosso limitado saber. Que fazer? Amar! Nessa consciência de que todos nós somos mundo, nada mais nos resta a não ser nos alegrar porque existimos e, nisso, devemos nos exercitar para o encantamento. “Que pode uma criatura senão entre criaturas, amar?” Encantar-se e alegrar-se são fundamentos do amor, são grandezas absolutas a tornar sublime a ação humana, por aproximar do grau de divinização de sentimentos. Encantar-se pela família, pelos cuidados com o outro, multiplicar-se em zelo por nosso ambiente natural, nossos rios, nossa flora, nossa fauna... amar! São muitos os caminhos e os nortes já colocados à disposição da harmonia social e, em todos eles, quando apontam para o aperfeiçoamento da humanidade do homem, dizem de uma relação harmoniosa com a Natureza. Eis o amor em ato, concreto como o aperto do abraço afetivo, real como as lágrimas de saudade movidas pela lembrança do filho à distância. Drummond tem razão: “Que pode uma criatura senão entre criaturas, amar?”
Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 04/04/2020
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