Antonio Pereira Sousa

"Aprendi novas palavras e tornei outras mais belas." (Carlos Drummond de Andrade)

Textos

Amor (II)
Amar.
As palavras ganham sentido no tempo e carregam em si razões históricas. Quando falamos que amamos, o que estamos a dizer? A Filologia, esta ciência que tem como objetivo estudar uma língua através de textos escritos reconhece que as palavras têm historicidade, atualiza-se no tempo, mas as significações de suas raízes não desaparecem. Quando nascia a racionalidade no mundo ocidental, comandada pela Grécia antiga, o amor, para o pensador Platão, era articulado para responder a satisfação do princípio do prazer. O amor é EROS. É o encanto possível traduzido a partir do estímulo do desejo. Nesse princípio, então, Platão sentenciou: amor é desejo.
O problema é que, atendido o desejo, alcançado o intento, o amor se esvai. Não havendo mais desejo, não há mais amor. Esse sentido permanece no transcurso dos tempos, chegando a nossos dias, mas esse significado do amor EROS conviveu, bem cedo, com outra contemplação, pondo em sobressalto o valor “do amor como desejo”. O filósofo Aristóteles, embora estudante da Academia de Platão, logo divergiu de seu mestre e trouxe um novo modo de teorizar o sentimento do amor, fundamentando amor como cuidado. É o amor PHILIA, que anseia pela existência tranquila, alegre e duradoura desse sentimento.
Demanda-se agora a atitude de desvelo, de preocupação, de inquietação pela pessoa amada. O gesto deixa de ser momentâneo, como no amor desejo e passa ao amor como cuidado, diz respeito a preocupação, a responsabilização por destinos, objetivos, de busca do engrandecimento da vida. É nesse amor PHILIA – amor como cuidado - que inspirou o pensador Leonardo Boff afirmar: “Sem cuidados deixamos de ser humano”. PHILIA é o amor virtuoso e desapaixonado. É o tipo de amor relacionado à amizade e companheirismo, onde não há a presença do EROS. Novos tempos chegam e criam razões novas de viver e, nesse transcurso, no exercício do amor desejo e o amor cuidado, surge outro modo de sentir o mundo, exaltando-se a gratuidade do abraço protetor, através das ideias cristãs.
Chegamos ao amor ÁGAPE, que aciona o conceito da graça de defender a existência do outro, protegendo-o, ainda que dele nada se pretenda. É o deliberado desígnio de deixar o outro existir. Ágape é a disposição de amor a todas as pessoas, amigas e inimigas, o chamado amor ao próximo. Estamos falando da transcendência que nos faz sair de nosso egoísmo e amar como zelo de ver o outro triunfar na vida social e ajudar a compor um universo de alegria onde as sinuosidades da vida vão se amenizando, a glorificar todos com esse galardão: Amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei.
Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 04/04/2020
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