Beleza
A beleza é um dado da alma.
A beleza não tem existência em si, porque depende de apreços do admirador. O sujeito da admiração vê a exterioridade a partir de sua composição cultural. Quando o admirador tem um olhar conceitual, amparado em sensatez teóricas, sua perspectiva transcende a materialidade do objeto visto, porque enxerga princípios, origens, natureza. Nesse sentido, pode-se afirmar que o mar é belo, por sua grandeza; as flores são lindas, por sua pureza; a humanidade é deslumbrante, por sua possibilidade de ação racional. Há outro modo de ver a beleza, quando se considera a existência de traços ou pontos que fazem o ser observado revelar encantos, em razão da harmonia de suas partes entre si e com o todo. Nesse aspecto, um jardim é belo, pela disposição multicolorida; o canto de um pássaro é fascinante, por traduzir a harmonia de sua sonoridade com outros cantos; a dança é bela, porque a suavidade dos gestos do dançarino o faz parecer leve, o faz parecer levitando enquanto dança. A beleza pode ser sentida de mil e uma maneiras, mas sempre é vista a partir da alma de um observador. Em face disso, o filósofo, historiador e ensaísta britânico David Hume (1711-1776) sentenciou: “A beleza das coisas existe no espírito de quem as contempla”. A considerar esse fundamento sintetizado por David Hume, a beleza se desenvolve inicialmente dentro de cada um de nós. Nós treinamos nosso olhar, nosso gosto, nossa vontade e aí encontramos belezas na sonoridade dos cantos, nas cores da natureza, nos risos. Do mesmo modo, desenvolvemos em nossa consciência princípios, razões de existir, significados e, nisso, contemplamos belezas na natureza das coisas e na funcionalidade dos bens. Por esse ângulo, os afagos, os gestos de delicadeza, os acenos de compaixão, os abraços de confraternização são belos por engrandecer a virtude humana; o Sol é esplendoroso, porque fornece a energia necessária a vida de todos os seres vivos. São por todas essas razões que a beleza se encontra ali onde o ser humano está. Pode-se afirmar, então, que cultivar a alma para perceber belezas é um gesto de amar a vida.
Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 05/04/2020
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