Antonio Pereira Sousa

"Aprendi novas palavras e tornei outras mais belas." (Carlos Drummond de Andrade)

Textos

Cotidinidade (II)
A liberdade é um dado da cotidianidade. Era janeiro de 1890, no governo provisório do Marechal Deodoro da Fonseca, quando José Joaquim de Campos da Costa de Medeiros e Albuquerque (1867–1934) (letra) e Leopoldo Miguez (1850-1902) (música) ganharam o concurso oficial para criação do Hino da Proclamação da República. Eis o refrão deste Hino:
Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz
A licença poética permitiu a José Joaquim de Campos da Costa de Medeiros e Albuquerque devanear e conceder asas à liberdade. A liberdade é uma ideia, não é um ser social. Ela é uma qualidade, uma característica, é a natureza que se mostra na cotidianidade dos espaços sociais através das ações humanas. Sendo, pois, uma categoria, à liberdade pode-se, quando muito, ser modulada, pode-se variar a sua amplitude. Na expressão a seguir de Jean-Paul Sartre (1905-1980), tomada como exemplo, a possibilidade de modulação da liberdade é visível: Ser-se livre não é fazermos aquilo que queremos, mas querer-se aquilo que se pode.
Estamos, neste caso, ante a um atributo do ser social, que institui, como uma de suas faces, a liberdade. Sendo, como somos, ser social, estamos em pleno movimento auto movido pelas contradições postas na existência, que nos levam, de modo diverso, a querer e a procurar confortos, buscar proteções para vida e para a sociedade. É aí nessa dinâmica interna, campo de contradições, que a amplitude da liberdade se estabelece, limitada por possibilidades de espaços e tempos, como bem configurou o pensador Karl Marx (1818–1883), indispondo-se com a existência de liberdades absolutas: Liberdade é a possibilidade de escolher entre alternativas concretas.
A chave de compreensão da liberdade é mesmo a possibilidade de escolher. Nessa decisão de busca interessada, que cabe apenas aos humanos, está presente a teleologia, a categoria de intencionalidade, o reconhecimento de finalidade. Nisto se reconhece que na Natureza o único ser possível de liberdade é o homem. É nessa condição de ser social, com possibilidade de liberdade, que surge uma característica unicamente humana, a sociabilidade mediada por dados culturais, lugares de origem Das lutas nas tempestades, Dá que ouçamos tua voz, a voz da liberdade.
Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 07/04/2020
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