Cotidianidade (III)
Vida particular.
Socialmente, temos duas vidas, uma vida privada e uma pública. Habitamos esses dois espaços e neles construímos o que somos. Já no nascimento, o espaço público toma conta de nós. A presença do modo como somos tratados no comecinho da vida tem a ver com a cultura do tempo espaço dominante de então. Isso faz de todos nós uma unidade dentro do coletivo, numa conexão plena entre o privado e o público. Viver a vida no privado é estar em família, numa célula inicial para outros tipos de aglomeração. As atividades realizadas em família respondem a interesses próprios, a exemplo da manutenção dessa célula inicial e a sobrevivência da espécie na reprodução. Nesse ambiente, prolifera-se a individualidade, território das subjetividades, de puro domínio do indivíduo, expressão maior do eu singular, espaço do domínio individual a moldurar uma sociedade específica, a humana. Por sua vez, viver a vida no público é abrir-se à participação de vários outros membros de tantas outras famílias, que passam a se encontrar numa espécie de associação, a cidade, buscando-se interesses comuns. O desenvolvimento desses interesses comuns se processa através do trabalho, da vida ativa, como expressou Hannah Arendt (1906-1975), em seu texto A Condição Humana: “O trabalho produz um mundo “artificial” de coisas, nitidamente diferente de qualquer ambiente natural [...] A condição humana do trabalho é a mundanidade”. É de se acentuar que o trabalho é uma condição para a nossa existência, por produzir bens úteis necessários à vida, amplamente utilizados por todos nós. É aqui no público, lugar do encontro dos indivíduos e da produção e distribuição dos bens que o mundo dos acertos e dos desacertos acontecem, respondendo a dissimuladores modelos ideológicos e religiosos, a favorecer e a prejudicar severamente massas imensas. Esse novo mundo tomado de angústias, arrastando-se entre abundâncias, desperdícios, carências e sofrimentos, esse novo mundo, com seus avanços tecnológicos, deu um giro de cento e oitenta graus e, de novo, a distinção entre o público e o privado perdeu o marco divisório: • Ao longo do processo histórico, o público dominou o privado. No espaço político, somente o cidadão era senhor de direitos. No espaço religioso, nada era segredo para os deuses: Pois não existe nada escondido que não venha a ser revelado, ou oculto que não venha a ser conhecido – Lucas 12-2. • Na atualidade, os segmentos da tecnologia da Internet possuirão, em pouco tempo, toda a nossa face social e nossa alma cultural: A tecnologia move o mundo - Steve Jobs (1955-2011).
Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 07/04/2020
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