Olhar em torno de nós com os olhos da alma é contemplar.
Na contemplação, o que enxergamos é iluminado por luzes interiores.
Dentro de nós estão amoldados modelos de caráter, de sensibilidade, de interesses. Esses modelos determinam nosso modo de agir e reagir. É aí nesses modelos que nosso modo de ser emerge, é aí, também, que as luzes interiores são geradas.
Cada um de nós enxerga o mundo de seu ângulo e de seu entendimento construídos no curso da experiência vivida.
Somos astros com luz própria.
Nesse sentido, a contemplação já não é uma busca, é a percepção de um cenário que se oferece ao olhar. Já é o encontro com algo bom, belo, prazeroso que foi, noutro instante, procurado, elaborado.
É mesmo isso que devemos fazer em toda nossa existência: buscar para contemplar. Buscamos a educação e contemplamos o saber; buscamos nosso trabalho e contemplamos o progresso; buscamos nosso amor e contemplamos nossos filhos; buscamos nosso divertimento e contemplamos nossos esportes...
Ao que parece, temos como dever construir um ponto de encontro onde algo de bom e prazeroso se ofertariam a nossa contemplação e a nosso usufruto.
Essa é mesmo a face mais sublime da contemplação: se deixar apreender como um dado de alegria. Contemplar, nesse caso, é um ato de amar.
O amor é uma alegria.
O homem que contempla, então, enxerga com mais nitidez as cores e os sons do mundo, ouve as distâncias dizerem coisas, como num segredo contado entre amigos. A síntese está contida na sentença do teólogo francês Jacques-Bénigne Bossuet (1627-1704): A contemplação são os olhos da alma.
Há qualquer coisa de ilusionista na contemplação, é preciso lembrar.
Nós somos construtores do que somos e do que temos.
O que queremos contemplar é resultado do que construímos. Se praticamos desordens, teremos desastres. Se cuidamos de jardins, teremos flores, encantos...
Façamos, portanto, nossas escolhas e as contemplemos!