Dúvida
Angústia.
Olhando-se em torno, o que se vê é uma certa inquietação entre os homens. Estamos sempre querendo algo novo. Em tese, não nos contentamos com o que somos, com o que temos e, por isso mesmo, ganha força de certeza a afirmação de que o homem é um ser incompleto. Somos seres em construção. Diferentemente, os demais animais nascem prontos, estão estacionados naquilo que sempre foram e são governados pelos seus instintos sólidos, absolutos: gato é gato, pato é pato. O homem, sem instinto dominante, altera seu jeito de ser com frequência, cria e modifica seu quotidiano a cada momento. A este gesto de domínio de si, pode-se dizer, é um dado de inteligência própria da espécie humana. A sabedoria que daí pode surgir é a de se encontrar os melhores modos de viver. Nessa atitude de encontrar modos de viver, nós nos remetemos ao desejo de conhecer. O mundo precisa ser lido e entendido para que possamos agir em busca de nossos interesses. O que se quer, por fim, é o bem-estar. A origem da dúvida tem suas raízes nesse contexto que nos impõe à necessidade de aprender a viver, visando um bem-estar. Esse trajeto da busca do bem-estar é instável e provoca incertezas, algumas angústias, mas são essas incertezas e angústias que fazem surgir a dúvida como mãe da indagação. As respostas às indagações são sempre uma tentativa de iluminar caminhos na direção da completude, da perfeição, reino de todas as bonanças. Ora, pois! A dúvida alcança grandeza como sentimento humano, porque possibilita o surgimento do estímulo do juízo, do exercício da razão, a permitir a ação pensada, numa tentativa de perceber alguma segurança lógica na direção a se tomar e no objetivo a se alcançar. É nesse ponto do exercício da razão, liberado pela luminosidade da dúvida, que aparecem os diferentes fundamentos justificadores dos modos distintos de agir de cada um de nós, em busca do bem-estar. Aí estão os dogmas religiosos, as filosofias e as ciências. E porque plural o Saber, a pergunta que resta é, que caminho tomar? Dúvidas, dúvidas, dúvidas! Como podemos ter certeza?
Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 08/04/2020
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