Esperança (I)
Desejo e confiança.
O desejo e a confiança compõem a substância da esperança, este fundamento que anima e põe a vida em movimento. Na vida ativa, o desejo é visto nos projetos de cada um de nós e neles (nos projetos) há de existir a crença de que se conseguirá o objetivo traçado, o que põe o presente em relação com o futuro ou, como concebeu o poeta inglês, Alexandre Pope (1688-1744), universalizando esse sentimento: “[...] a esperança brota eterna no peito humano.” Vale logo ressaltar que a esperança, como todo e qualquer sentimento, ganha o colorido de tempos e espaços diferentes. É na diferença, dentro desse campo social, que somos mais ou menos esperançosos, exercitando-se os desejos e confianças com maior ou menor intensidade. Cada um, cada grupo, cada sociedade tem à sua maneira peculiar de sentir a esperança, de viver a esperança. A esperança é, então, plural. Existem esperanças grandiosas, que envolvem sociedades inteiras, como as idealizações de um mundo melhor, de um país mais justo, de uma vida social sob o manto da igualdade, liberdade e fraternidade, como no sonho da Revolução Francesa de 1789, como aquela sonhada, em 1963, por Martin Luther King Jr. (1929-1968), pastor batista, líder na luta contra a discriminação racial, nos Estados Unidos: “Eu tenho um sonho, que meus quatro pequenos filhos um dia viverão em uma nação onde não serão julgados pela cor da pele, mas pelo o conteúdo de seu caráter.” Há, também, as pequenas esperanças, aquelas que falam de projetos de família, de projetos individuais, dos momentos mágicos que fazem a vida cotidiana, da rotina diária, ser alegria. Há, ainda, as esperanças cultivadas na simplicidade do encontro festivo entre membros da família e amigos, no sonho da casa própria, no sonho de ver os filhos e os netos crescerem, a compor a base social e referência de uma cidadania ativa, exercitando gestos e ações que contribuem para os horizontes de expectativas se alargarem, como expressou o historiador Reinhart Koselleck (1923-2006). O ser humano precisa ter esperança sempre! Cultivar esperança é caminhar na direção do Paraíso, como bem descreve o poeta italiano Dante Alighieri (1265-1321), em A Divina Comédia, ao ressaltar, por oposição, sobre a ausência de esperança, como no registro na tabuleta de entrada do Inferno (Canto III): “Deixai toda esperança, vós que entrais!”
Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 12/04/2020
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