Viver em esperança.
Fazemos uma viagem enquanto vivemos. A navegação nem sempre é tranquila, mas não se pode deter esse movimento, porque ele está fora de nosso controle. O muito que temos de fazer é conseguir compreender a potência desse movimento e encontrar forma de colocar essa energia a favor da vida.
Navegar é mesmo preciso. Esse é o primeiro ato da consciência, saber que somos navegantes forçosos, porque nada está parado, tudo está se movendo. Essa certeza vem de longe, vem do filósofo pré-socrático Heráclito (540-470 a.C.):

“Tudo flui. Tudo está em movimento e nada dura para sempre.”


Tomando-se o espírito dessa sentença de Heráclito, o poeta português, Fernando Pessoa (1888-1935), simplifica:

“Para viajar basta existir.”

Sendo assim, temos uma realidade presente em nós e em nosso tempo, esse presente e essa realidade percebidas são nossos materiais de reflexão. E disto há de cuidar nossa inteligência ao se tocar a vida, dado que não se pode crer possível buscar, caminhar de forma aleatória. Mais ainda, como a jornada para viver não está traçada por princípio, não é oferta gratuita recebida ao nascer, cabe a ação destemida, persistente, cautelosa, fortalecendo a habilidade para enfrentar incertezas e equilibrar as ações.
É esse princípio que levou o poeta espanhol, Antonio Machado (1875-1939), a conclamar:
“Caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao caminhar.”

Estamos ante a um dever categórico, ter de viver frente a uma determinação irrevogável, ter de navegar e, com isso, a responsabilidade não poderia ser outra a não ser a de tomar consciência dessa realidade que nos afeta, compreendê-la devidamente e assumir o controle do que é possível fazer dentro desse movimento a que todos estamos submetidos.
É nessa consciência do viajante do tempo que reside a esperança ou, como disse o velho filósofo Aristóteles (384-322 a.C.): “A esperança é o sonho do homem acordado.”