Antonio Pereira Sousa

"Aprendi novas palavras e tornei outras mais belas." (Carlos Drummond de Andrade)

Textos

História

Os conteúdos dos estudos de história falam de um mundo humano realizado, de ações de indivíduos e grupos que foram construindo bens para o uso individual ou coletivo, moldados por interesses mais diversos e em razão de arranjos inspirados nos sistemas culturais, instituidores de direções de vida. Reconhecemos que nossos desejos se submetem a condicionamentos existenciais e que as atividades respondem às vontades vindas de outras experiências, de um tempo anterior que, no presente, se atualizam e criam a possibilidade do futuro. Esse, aliás, é mesmo o percurso dos homens.
Os gestos do passado, recebidos no presente como herança, edificam-se em novos pilares no presente e transitam para outro estágio onde residem as esperanças que nos fazem bons, justos e livres ou nos empurram para desastres sociais. Os estudos de história têm mesmo esse objetivo, o de conhecer o percurso das atividades sociais que conduziram o homem ao presente. Escrever textos históricos é esse desejo de desvendar mais do que aquilo que foi feito no passado, mas é, sobretudo, perceber como e porque as coisas foram feitas de certo modo e não de outro.
O interesse chave dos estudos de história é o de compreender o passado, é o de entrar na alma daqueles sujeitos que viveram experiências diferentes das nossas, em tempos distintos, repletos de tensões, constituídos de teias de relação que molduraram jeitos de ser e modos de agir. Conhecer o passado é, então, revelar os modos como atores sociais produziram suas vidas, é compreender as contingências que influíram os sujeitos a tomarem decisões, numa construção que envolveram risos, tristezas, esperanças, frustrações, confrontos, conformismos.
O conhecimento histórico, nesse caso, deve ser uma compreensão de aspectos particulares da totalidade, naquilo que facilite o historiador a dar conta de seu interesse, que é saber como os homens, em culturas diferentes e com outros meios, lutaram por seus valores de liberdade, direito, justiça. Tem razão o sociólogo e ativista dos direitos humanos no Brasil, Herbert José de Souza - Betinho (1935-1997), quando afirma que “existe um modo de fazer a história e um modo de escrever a história.”
O cuidado de Betinho está considerando que a história contada ganha o colorido pintado pela ideologia do historiador. As tensões e intenções vividas, os projetos presentes nas ações cotidianas dos sujeitos podem ser vistos de mais diferentes ângulos. A riqueza do estudo de história se mostra mesmo nesse caleidoscópio de interpretações, a dizer dos múltiplos caminhos e modos de ação a que a vida ativa se obriga a cumprir, por isso a assertiva de Platão (427-347 a.C.): “Tente mover o mundo - o primeiro passo será mover a si mesmo.”
Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 24/04/2020
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