Antonio Pereira Sousa

"Aprendi novas palavras e tornei outras mais belas." (Carlos Drummond de Andrade)

Textos

Juventude

       Há sempre uma possibilidade de se modernizar e de se atualizar as formas de ver, pensar, interpretar, amar, porque há sucessivamente um novo oculto entre desconhecimentos e horizontes engessados.
Deixar-se tomar pelo sossego, por uma quietude estabilizada no contentamento do que é conquistado, é querer parar o tempo numa eternidade de bonanças, negando existência do movimento inflexível que ressignifica valores e importâncias de tudo que há, no que se cai no empobrecimento de experiências e no envelhecimento, feições claras da mesmice do modo de viver, como se a negar a expectativa de novidades.
O novo simboliza o amparo ao movimento.
Nesse reconhecimento do novo como substância do movimento, deve-se entoar cânticos à juventude, que sonha com maior frequência num amanhã sem as sinuosidades sociais tão acentuadas que limitam os risos e as esperanças.  
A juventude é, essencialmente, o espaço de morada do novo, porque na juventude se reflete com maior vigor a probabilidade da realização de esperanças, dado que a alma se abre com mais espontaneidade à convocação para se vivenciar grandezas ainda em desenvolvimento, perspectivas ainda em flor.
No entanto, não há gratuidade na existência social. É na juventude que pesa mais o dever de não se acomodar e o de buscar o saber, para que se possa entender o tempo anterior e o tempo presente, atualizando-os em benefício próprio e da sociedade, na consciência de que o mundo humano é construção do próprio homem.
O fundamento que se nota nesse processo de ajustamentos a tempos diversos é conhecer, é “ousar saber” para “sair da menoridade” intelectual, moral e social. Essas são teses do filósofo Immanuel Kant (1724-1804). O fundamento é mesmo esse, o de ter a ousadia de buscar reconhecer de que o mundo está permanentemente em movimento e, nessa razão, inexiste espaço para a acomodação.
Na lembrança de que o universo social, em regra, é puro conflito, o jovem é acolhido, sempre, em espaços de impedimentos, o que gera dúvida do caminho a seguir, pois o Norte e o horizonte apresentados são incertos. E nisso, a tendência é a juventude se encaminhar para posturas individualistas e narcísicas, passando a adoração excessiva da própria imagem, porque dificultado em decidir sobre estratégias e laços sociais necessários à ascensão ao mundo adulto.
Embora se saiba que o jovem é um sujeito com valores, visão de mundo, interesses e necessidades moldados à singularidade de seu ser, ele ainda está num momento inicial de sua formação.
A ajuda é aqui necessária. Ajuda para identificação e reconhecimento da importância de direitos, deveres, percepção de limites e das consequências das ações que vier a tomar, porque há sempre desvios à frente, mas, que isso nunca impeça o sonho: “Tenho em mim todos os sonhos do mundo” - Fernando Pessoa (1888-1935).
Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 13/05/2020
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