Limites
A vida humana pode tudo. Tudo, num limite da força do corpo de cada um e dentro das fronteiras demarcadas pelos costumes sociais. Fora desses horizontes balizados pela força do corpo e pelos costumes sociais, os riscos de danos são iminentes, porque são os limites que organizam o caos e estabelecem linhas que asseguram princípios de compreensão das múltiplas relações que se formam entre as esferas sociais. Não que os limites sejam uma prisão, antes, eles são campos de exercício e de experimentação, onde se pode educar os sentidos para ver com outros olhos, ouvir com outros ouvidos, dando expansão a afetos e preparando modos de agir capazes de elaborar ou de fazer contato com novidades, resultando no alongamento dos próprios limites da ação. Entende-se aqui que os limites não são estáticos, não há rigidez na sua demarcação. Ainda mais, os limites são múltiplos e balizam diferentemente cada pessoa, significando que há complexidade em se ajustar os limites dentro de um espaço social. Embora haja esse dado de complexidade dentro dos limites, deve-se reconhecer que é nesse interior que exercitamos saberes para ampliar o desenvolvimento de nosso domínio sobre o tempo presente. Nessa concentração de aprendizagem, ganha-se a possibilidade da expansão. Isto é, a vida assim pulsando, concentrando e expandindo, faz surgir modos de agir fundados na relação desejos e possibilidades, onde nossos sentimentos contam e muito, por encontrar razões que emancipam a vida. Tomar consciência da existência dessa relação necessária entre desejos e possibilidades, é impedir que a ação se feche em demasia em torno dos próprios desejos. Nesse cuidado, evitando-se a contenção exagerada dos desejos, a dinâmica da relação desejos - possibilidades não se solidifica e permite a expansão acontecer, abrindo-se a novos tempos, sem se perder a identidade da ação, sem se dissolver à vontade expressa nos desejos pacificados ou rebeldes, mas marcados por limites. Esse cuidado nos remete à sabedoria do estadista romano Marco Túlio Cícero (106 a 43 a.C.): “A natureza não nos permitiu conhecer o limite das coisas.”
Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 20/05/2020
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