Loucura
Ler o mundo. Na vida, há poesias, encantos mil a provocar risos, explosões de alegria, permitindo florescer esperanças e quietude de alma. Na vida, há tragédias, dissabores mil a provocar choros, explosões de tristeza, permitindo florescer desesperanças e inquietude de alma. O mundo é isso, ordem e desordem, é cosmo e caos. Nossa vida é parte desse mundo, nossa vida compõe esse mundo de poesias e tragédias, alegrias e sofrimentos. Nesse terreno instável é que surgem as loucuras para além das patologias que retiram do sujeito o domínio de sua racionalidade. Há uma loucura dos que reagem à ordem, às regras estáveis, por pressentir que há possibilidade de existência de outra ordem, de outras regras, de um mundo ainda melhor. Os loucos dessa natureza não se importam com os enquadramentos, quebram barreiras, impõem novos diálogos e se investem em direção a novos horizontes. Nesse investimento, uma desordem momentânea paira no ar, desequilibrando harmonias, desfazendo caminhos e nortes, desestabilizando esperanças e o sofrimento ganha corpo nesse espaço de conflito. É dentro desse espaço de conflito que o novo surge predominando sobre velhas tradições, ao estabelecer nova ordem, novas regras, porque um mundo novo surgiu. Mas porque a vida é dinâmica, logo frustrações começam a aparecer no seio do novo, criando instabilidades, rompendo ordens estabelecidas. Conflitos emergem. O mundo social é mesmo esse ciclo de mudanças que nunca para, e aí novos loucos surgem com novas ideias, novos interesses. O pensador Nietzsche (1844-1900), em Assim Falava Zaratrustra, metaforiza a loucura desses visionários dos tempos novos: “[...] há sempre o seu quê de loucura no amor; mas também há sempre o seu quê de razão na loucura.”
Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 27/05/2020
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