Paixão
A paixão é uma percepção da alma. São aqueles sentimentos fortes que se seguem a sofrimentos ou a prazeres. Todos nós temos nossos momentos de paixão. Sem a paixão, a sociedade humana seria insípida, sem graça, robótica. A graça de viver acontece, porque, de repente, fora do domínio lógico das racionalidades, nós nos encantamos por algo ou por alguém. Inesperadamente, nós desejamos com intensidade: isso é a paixão. A intensidade da paixão, no entanto, é regulada por freios construídos na convivência social. Esses freios são a cultura que nos envolve e nos permite mais intensidade de ação num espaço e tempo ou decide, inversamente, que o entusiasmo seja contido. Um dado importante para que a paixão se instale é a existência da esperança. Esperança de que aquele desejo intenso seja correspondido. Sem esse dado, sem a retribuição ainda que mínima, a intensidade da paixão se enfraquece, ou seja, a esperança sozinha não garante a paixão. Ao se reduzir esse brilho forte do sentimento, a paixão, não poucas vezes, se transforma em ódio. Vivenciar a paixão, ainda que a sua retribuição seja intensa, não é uma garantia de que ela seja uma emoção duradoura. Não há o que se fazer aí, enquanto ser da paixão. Pensar doutro modo seria oferecer-se como gestor da paixão, o que equivale dizer que a paixão teria de ceder lugar a outro sentimento, não seria mais a paixão, pois o apaixonado não é agente de si, ele, enquanto ser apaixonado, é passivo, ele é quem sofre a ação. O benefício de apaixonar-se, contudo, é importante porque é nesse momento da paixão que se afloram outras percepções da alma, ofuscadas nas racionalidades dos sentimentos pensados. É no momento da paixão que enxergamos cristalizações de virtudes eternas presentes no outro: Bondade, Sabedoria, Paciência, Prudência. É válido se apaixonar. É nesse sentido que a paixão é o brilho do amor, e o amor é uma alegria. O amor, este sim, pode ser cultivado independentemente de tempos e contratempos, à luz da experiência e da consciência de cada um. Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 15/11/2020
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